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Campanha Mobiliza Comunidade Brasileira no Canadá em Apoio ao Rio Grande do Sul  

Mais uma vez o Conselho Brasileiro de Cidadania de Ontário (Concid) colocou a solidariedade em ação.

 “A solidariedade não é apenas um gesto de caridade, mas uma poderosa ferramenta de transformação social”, disse Arnon Melo em agradecimento a participação dos voluntários na campanha de ajuda às vítimas das enchentes do RS.

Por Jandy Sales | 11 de fevereiro de 2025

Durante a pandemia do Covid-19, o Conselho Brasileiro de Cidadania de Ontário, liderado por Arnon Melo, presidente na época do Conselho, ajudou cerca de 600 brasileiros embarcarem de volta de várias cidades canadenses para o Brasil, evitando que eles enfrentassem o drama da pandemia longe de suas famílias. Arnon Melo, hoje membro do Conselho, arregaçou as mangas mais uma vez e ao lado de um batalhão de voluntários para uma mobilização para ajudar as vítimas das enchentes de maio do Rio Grande do Sul. A tragédia climática – que devastou comunidades locais, despertou um movimento solidário da comunidade brasileira no Canadá. Liderada pelo Concid Ontário e a MELLOHAWK Logistics, a campanha de arrecadação mobilizou brasileiros de várias regiões do Canadá.

A campanha de solidariedade que começou com um Happy Hour realizado em Toronto no dia 10 de maio marcou o lançamento oficial da campanha e arrecadou CAD$ 3.410,00 (R$13.367,20), resultou em números que orgulharam cada um dos voluntários:  2 embarques aéreos, 5 containers marítimos, 3.528 caixas enviadas e 70.924 kg de doações

 

Embaixador Carlos França em Ottawa recebe do membro do Concid e presidente da MELLOHAWK Logistics, Arnon Melo, o relatório oficial do CONCID. 

Para compartilhar com os leitores da Revista DISCOVER a ação solidária para ajudar os desabrigados do RS e os desafios da campanha, confira a nossa entrevista com o membro do Concid e presidente da MELLOHAWK Logistics, Arnon Melo:

Revista DISCOVER: A sua experiência no ramo de logística foi fundamental para o sucesso da campanha, mas quais foram os principais desafios logísticos enfrentados para enviar as doações para o Brasil?

 

Arnon Melo:  Já contávamos com uma infraestrutura sólida e o apoio logístico não apenas em Toronto, mas também em Ottawa, Montreal e outras partes do Canadá, o que facilitou bastante o processo de preparo e embarque das doações. Um dos maiores obstáculos foi conseguir apoio de uma das maiores empresas marítimas do mundo para doar parte do valor do frete dos contêineres. Esse foi um passo crucial para garantir que as doações chegassem ao Brasil de forma viável financeiramente. Outro grande desafio foi a organização de todas as doações nos nossos armazéns em Toronto, mantendo tudo armazenado e pronto para o carregamento de cada contêiner. Esse processo exigiu uma logística precisa e um planejamento detalhado para garantir que tudo fosse transportado no tempo certo e em boas condições. Talvez o mais desafiador tenha sido coordenar com o gerente de comunicação do Porto de Itapoá, em Santa Catarina, onde os contêineres chegaram ao Brasil, para isentar as taxas portuárias locais. Foi um processo delicado, mas com a apresentação do trabalho realizado por centenas de voluntários no Canadá, focado no bem comum, conseguimos sensibilizar todos os envolvidos.

RD Como foi a escolha dos locais de distribuição das doações no Rio Grande do Sul? Houve algum critério específico para definir esses locais?

AM – Todas as doações vindas do exterior tinham que ser liberadas e entregues para a “Casa Militar / Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul”. Eles têm a autorização do Estado do RS e da Policia Federal para liberar todas as importações livre de impostos e também ficaram na responsabilidade de receber e distribuir as doações. Mas como houve um enorme número de doações vindo de várias partes do Brasil e do mundo, a Casa Civil nos pediu se podíamos ajudar a encontrar entidades que, com a autorização da Casa Civil, pudessem receber as nossas doações. Então com a colaboração de vários amigos e conhecidos em Porto Alegre, Paulo Orlandi do Consulado Canadense em Porto Alegre, Luciana Platcheck, uma amiga minha, Kika Martinez, uma gaúcha de Porto Alegre mas que mora em Montreal identificamos diversas ONG que aceitaram receber nossos donativos e ajudar na distribuição local. Tudo foi feito com a autorização da Defesa Civil e trabalhamos em conjunto para tudo chegasse nas organizações que aceitaram no ajudar.

RD – Quais são os próximos passos para dar continuidade a esse tipo de iniciativa e garantir um apoio mais estruturado às comunidades afetadas por desastres naturais no Brasil?

AM – Embora não haja planos concretos para próximos passos, essa tragédia no Rio Grande do Sul foi um marco por permitir que as leis de importação no Brasil fossem temporariamente alteradas, isentando todas as doações de impostos – algo inédito até então. Conseguimos negociar descontos significativos no frete, e a MELLOHAWK Logístics também arcou com muitos dos custos para garantir que as entregas chegassem em ordem. Essa isenção completa de impostos foi um feito histórico, e essa campanha se destacou por sua singularidade. No entanto, por parte do Concid, não há previsão de uma nova campanha específica para ajudar o Rio Grande do Sul. Contudo, estamos abertos a atuar novamente, caso surja outra necessidade em uma causa de urgência. A continuidade desse tipo de iniciativa dependerá muito da situação e da gravidade do evento, mas estamos sempre dispostos a colaborar quando for necessário.

RD – Você considera a reação do brasileiro a tragédias como a do Rio Grande do Sul mais engajada quando ele está longe de casa?  

AM – Quando alguém está fora do Brasil, a sensação de pertencimento à pátria se fortalece, e eventos que impactam o país podem evocar um sentimento de saudade e impotência, levando à necessidade de se engajar de alguma forma. Estar longe amplia a percepção de responsabilidade e solidariedade, uma vez que o indivíduo pode querer demonstrar seu apoio, seja através de doações, campanhas de conscientização ou mobilização em redes sociais.  Além disso, a distância pode amplificar a sensação de urgência em ajudar. A mídia internacional, por exemplo, muitas vezes reforça a dimensão das tragédias e torna a situação mais concreta, gerando um impulso mais forte de contribuição. Esse engajamento à distância é uma forma de reduzir a sensação de impotência e manter um laço com o Brasil, mesmo quando se está fisicamente longe, fazendo com que o brasileiro sinta que ainda pode ajudar e fazer a diferença.

Mãos à obra! Arnon Melo, do Concid, ao lado da embaixadora Wanja Campos da Nóbrega e de voluntário, checam lista de doações que farão a diferença na vida de muitas famílias gaúchas.

RD Qual mensagem que você gostaria de deixar para outras empresas e comunidades que desejam se envolver em ações solidárias como essa?

AM – A solidariedade não é apenas um gesto de caridade, mas uma poderosa ferramenta de transformação social. Quando empresas se unem a comunidades, elas criam uma rede de apoio que vai além da ajuda imediata elas constroem um futuro mais resiliente e empático.

Ações solidárias demonstram que, juntos, somos mais fortes. Um provérbio africano diz: “Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se você quer ir longe, vá em grupo.” A união entre empresas, comunidades e indivíduos é essencial para criar um impacto duradouro.

 

Um dos embarques aéreos da campanha. As doações sairam de Toronto para a Organização Sogipa, de Porto Alegre (RS), no dia 5 de Junho de 2024.

O Concid é um espaço de diálogo dinâmico e inclusivo, formado por brasileiros voluntários que se revezam na representação da comunidade. Denominado de foro pelos organizadores, o mesmo tem como objetivo conectar os brasileiros no exterior aos consulados, promovendo a troca de ideias e a participação de diferentes segmentos da sociedade. Para maiores informações sobre o Concid e a campanha de ajuda às vítimas da enchentes do Rio Grande do Sul, basta clicar no link: Campanha solidária canadense para ajuda do Rio Grande do Sul.  

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JandySales

Jandy tem experiência em rádio, televisão, jornal e revista. Ele já recebeu três prêmios como documentarista.

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