Influenciadores Brasileiros: Cyberbullying, Engajamento dos Seguidores e Marketing Digital
O Brasil é hoje campeão mundial em número de influenciadores
Sete em cada dez jovens brasileiros sonham em se tornar um influenciador digital. O fascínio da fama e do sucesso financeiro é a principal motivação por trás dessa tendência, cuja superexposição pode ser uma faca de dois gumes. Esses criadores de conteúdo atuam em diversos setores e têm o poder de estabelecer tendências e sugerir comportamentos.
Por Allessandra Cintra | 15 de junho de 2023
Se você é usuário de uma rede social certamente segue ou já seguiu um ou vários influenciadores digitais. Os criadores de conteúdo, como também são chamados, atuam nos mais diferentes segmentos e tem a habilidade de sugerir comportamentos, estabelecer tendências e atuar como uma fonte de inspiração e informação nas mídias sociais. Eles compartilham rotinas, emoções e experiências com os seguidores, formando uma relação próxima e confiável com os mesmos. De acordo com uma pesquisa divulgada pela Nielsen, o Brasil é hoje campeão mundial em número de influenciadores, especialmente no Instagram, onde existem 10,5 milhões de influenciadores, ou seja, com pelo menos 1 mil seguidores. Fonte: Statista Global Consumer Survey.
Para o mentor de negócios digitais, Arnaldo Alves, autenticidade, conteúdo de qualidade e adaptação às mudanças digitais são essenciais para ser um influenciador de mídia social.
O mentor em negócios digitais, Arnaldo Alves, explica que para se tornar um influenciador de mídia social é importante começar aos poucos como um ‘micro influencer’, com cerca de 10.000 a 50.000 seguidores. “Os desafios são muitos para quem está começando e incluem manter-se atualizado com as mudanças constantes nas redes sociais, investir tempo e recursos para produzir conteúdo de alta qualidade, além de manter a autenticidade e transparência com a audiência. Além disso, o glamour associado ao modo de vida do influenciador pode parecer cor de rosa, mas a superexposição pode tornar esse mundo bem turbulento”, disse ele.
Alves destaca ainda a importância do marketing de mídia social para minimizar possíveis transtornos e gerar benefícios para os negócios: “O marketing digital surgiu para auxiliar no reconhecimento de marca e aumento da visibilidade e dar a possibilidade do influencer alcançar novos públicos e criar conexões mais fortes com a audiência. O marketing de influência ainda é relativamente uma nova profissão e tem se tornado cada vez mais popular e relevante para as empresas nos últimos anos”, afirmou.
De acordo com o relatório publicado pela Brainy Insights, o marketing de influência está destinado a ganhar cada vez mais espaço nas estratégias das marcas, devendo crescer de US$ 10,54 bilhões registrados em 2022 para US$ 94,24 bilhões em 2030.
“Um influenciador digital pode persuadir as pessoas em todas as esferas, como na decisão de consumo e também no comportamento, pois eles apresentam vidas perfeitas”, segundo a psicóloga, Priscila Bezerril.
Para a psicóloga clínica, Priscila Bezerril, especialista em avaliação psicológica, terapia cognitivo-comportamental e gestão de Carreira e empreendedorismo, a cibercultura vem construindo um conjunto de pensamentos, práticas, atitudes, valores e modos de agir nos usuários de mídias sociais.
“Nós somos seres sociais e nossos comportamentos são modulados, sendo assim, um influenciador digital pode persuadir as pessoas em todas as esferas, como na decisão de consumo e também no comportamento, pois eles apresentam vidas perfeitas, corpos perfeitos, luxo, fama, dinheiro, poder, trazendo à baila uma vitrine de desejos, principalmente nos adolescentes”, disse Priscila.
Se por um lado existe o poder de persuadir os seguidores, por outro é importante para o influencer avaliar como ele lida com a exposição e a rejeição. “A busca por ‘curtidas’, atenção e notoriedade pode ocasionar sofrimento psicológico também ao influencer”, destaca Priscila.
Joel e Bruna, do TwoCanada, divulgam o Way of Life canadense direto de Calgary com conteúdo que inspiram brasileiros a imigrar para o país e que até já rendeu elogios do Consulado Brasileiro.
O casal Joel Alves e Bruna Pereira, criadores do canal ‘TwoCanada’, hoje com 76 mil seguidores, conta que o maior desafio como influenciadores são os relacionamentos. “Nós acabamos nos expondo muito e, com isso, as relações com outras pessoas são construídas em uma velocidade que não é normal, muito mais acelerada e sem a maturação natural do tempo. No começo a gente se machucou muito com algumas amizades e como produtores de conteúdo digital estamos sempre sujeitos a isso”, afirmou Joel.
O canal ‘TwoCanada’ foi criado há 4 anos para documentar a jornada de mudança de Joel e Bruna, do Brasil para o Canadá. “Não pensávamos em nos tornar influencers. Tudo aconteceu naturalmente. Conseguimos conquistar bastante seguidores, provavelmente por estarmos entregando um conteúdo de valor e marcante, com uma maneira particular de mostrar a cidade de Calgary e as montanhas, assim como nossa forma simples e entusiasmada de apresentar nossa nova vida”, disse Bruna.
E essa notoriedade foi impulsionada quando Joel e Bruna foram contactados pelo Consulado Brasileiro no Canadá, que comunicou aos dois a visibilidade e o alcance que o conteúdo deles estava tendo na comunidade brasileira. “Eles nos informaram que tínhamos mudado o destino da imigração de brasileiros para o Canada, pois a partir da divulgação do nosso conteúdo, Calgary entrou definitivamente na rota de imigração brasileira. Isso anteriormente acontecia apenas em cidades maiores como Montreal, Vancouver e Toronto. Ouvir que estávamos mudando o curso da história do Brasil no Canadá foi algo muito impactante para nós”, contou Joel.
Raquel Gonçalves, do Farofa de Maple: a inspiração para seguidores embalada pelo humor e também a chacota ferina dos haters.
Raquel Gonçalves, do canal ‘Farofa de Maple’, com 102 mil seguidores, também viu a vida de muitos seguidores mudar com suas postagens. “Já recebi mensagem de um seguidor que disse que se inspirou nas minhas postagens para mudar de emprego. Ele trabalhava em uma fábrica e começou a procurar emprego na área dele e conseguiu. Fiquei extremamente feliz com isso”. Farofa de Maple traz um conteúdo informativo e ao mesmo tempo engraçado. Isso é o diferencial do canal. “Minha intenção é levar alegria para as pessoas! Quando alguém diz que morreu de rir com meus vídeos fico super feliz! A vida já é tão dura, às vezes as redes sociais são tão tóxicas, se eu conseguir um sorriso já estou realizada”, disse ela.
Ao mesmo tempo que a internet afaga, ela também é cruel. Raquel conta que já sofreu inúmeras críticas de haters (internautas que postam conteúdo considerado odioso direcionado a uma pessoa ou instituição).
“Já me ofenderam de todas as formas, falaram do meu corpo, da minha voz, da aparência do meu marido, do meu sotaque e até já ameaçaram minha mãe por conta de política. Acho que se a pessoa não tiver a mente preparada para isso é melhor repensar se quer ser influencer”, sinalizou Raquel.
A psicóloga Priscila Bezerril conta que é extremamente importante saber dosar a vida pessoal e a superexposição nas redes sociais. “Em nome do sucesso e aceitação os influencers expõem a sua vida de uma maneira extremamente prejudicial. A internet fomenta a sensação de importância e aceitação pelos resultados das postagens e isso leva o usuário a publicar cada vez mais na busca pela validação e fama, colocando o vínculo familiar em vulnerabilidade e também os riscos do cancelamento e cyberbullying. O convívio familiar acaba ficando totalmente maculado pela negligência da vida real, da interação e da troca de afeto”.
Sobre o futuro da cultura de influenciadores, o mentor de negócios digitais, Arnaldo Alves, vê uma curva ascendente para os próximos anos. “Com o aumento do uso das redes sociais, os influenciadores têm se tornado cada vez mais relevantes e poderosos no mundo do marketing digital. Acredito que a forma como as marcas trabalham com produtores de conteúdo irá evoluir, com um foco maior na autenticidade e na transparência”. De acordo com uma pesquisa divulgada e realizada pela startup Inflr, 75% dos jovens brasileiros desejam ser influenciadores. Essa nova carreira é motivada não somente pela fama, mas também pela oportunidade de reais ganhos financeiros.
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