Brasil no Centro das Decisões Mundiais: COP 30 em Belém coloca o País no Protagonismo Ambiental
Como a maior conferência climática da história pode redefinir o papel da Amazônia no mundo e o que está em jogo no coração da floresta tropical com a COP30
Por Caio Quinderé | 16 de setembro de 2025
Os olhos do mundo estarão voltados para Belém, capital do estado do Pará, que sediará a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – a COP 30. O evento, promovido anualmente pela ONU, é considerado o fórum mais importante de negociação global sobre o enfrentamento das mudanças climáticas. Entre 10 e 11 de novembro deste ano, a conferência marcará um momento decisivo para a definição de ações concretas rumo a um futuro sustentável.
Para o Brasil, a COP 30 representa mais do que o acolhimento de uma cúpula internacional: trata-se de uma oportunidade histórica de reafirmar seu papel estratégico na luta contra o aquecimento global e na transição para economias de baixo carbono. Com sua vasta biodiversidade, o maior bioma tropical do mundo – a Amazônia – e uma matriz energética majoritariamente limpa, o país reúne atributos únicos que o colocam em posição privilegiada para liderar a agenda ambiental global. A Revista DISCOVER conversou com especialistas ambientais e representantes governamentais para entender o atual cenário brasileiro e mundial.
Cenário de Urgência
A COP 30 ocorrerá em um contexto de intensificação das crises climáticas. A última década foi a mais quente já registrada. Aumentos no nível do mar, secas severas, tempestades destrutivas e colapsos ecológicos tornaram-se cada vez mais frequentes. A comunidade científica alerta que o tempo para evitar os efeitos mais catastróficos do aquecimento global está se esgotando rapidamente. O Acordo de Paris, firmado em 2015, estabeleceu a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, mas as metas atuais dos países ainda estão aquém do necessário.
Nesse cenário, a COP 30 terá a responsabilidade de revisar os compromissos nacionais (os NDCs – Contribuições Nacionalmente Determinadas) e garantir que as promessas feitas anteriormente se traduzam em ações efetivas. O Brasil, país-anfitrião, assume o papel de protagonista de uma negociação crítica, que poderá definir os rumos da política climática internacional nas próximas décadas.
A Revista DISCOVER entrevistou Rômulo Alexandre Soares, advogado, mestre em Negócios Internacionais, especialista em Direito Internacional e Direito do Mar. Com ampla atuação em direito ambiental e negócios sustentáveis, é vice-presidente da Federação Brasileira de Câmaras de Comércio Exterior no Nordeste, e membro da Câmara Setorial de Economia Azul da ADECE/Ceará.
O advogado e ativista ambiental, Rômulo Alexandre Soares, defende o protagonismo do Brasil e dos oceanos na agenda climática da COP30. Cortesia entrevistado.
Revista DISCOVER: Qual é a importância de um evento como a COP 30 para a atual contribuição do Brasil para o mundo? Que percepção tem disso?
Rômulo Alexandre Soares: A COP 30 representa uma oportunidade histórica para o Brasil reivindicar um lugar central nas decisões globais sobre clima. O mundo precisa de ações concretas, mas também de lideranças que inspirem confiança e mobilizem soluções reais. O Brasil, assim como o Canadá, em face do seu compromisso em frear as mudanças climáticas e o respeito aos povos originários, tem muito a oferecer devido à sua matriz energética relativamente limpa, sua biodiversidade e seu povo resiliente. A COP em Belém simboliza também um reconhecimento da importância da Amazônia e dos biomas costeiros e marinhos, que é o tema que tenho mais conexão. Aliás, há uma expectativa que os temas ligados ao Oceano possam ser um ponto alto dessa COP, conforme foi recentemente anunciado em Nice durante a Conferência da ONU para os Oceanos. É o momento de mostrar que um país do Sul Global pode liderar com justiça climática, protegendo seus recursos sem abrir mão do desenvolvimento e da inclusão social.
RD: Você está envolvido em projetos que visam e atuam na proteção dos oceanos e, por sua vez, a mudanças climáticas. Fale sobre eles.
RAS: Sim, sou cofundador do Instituto Winds for Future e coordeno a iniciativa Kite for the Ocean, que conecta esporte, ciência e ação ambiental. Estamos engajados numa ação global por um Oceano sem plástico. Até agora, retiramos mais de 140T de resíduos de ambientes costeiros com apoio de kitesurfistas, comunidades locais, governos e empresas. Também atuamos com ecobarreiras em rios urbanos e estamos desenvolvendo, em parceria com universidades e organizações internacionais, planadores subaquáticos open source para pesquisa e conservação marinha. Esses projetos têm um traço em comum: envolvem tecnologia acessível, ação comunitária e foco no impacto real. Proteger os oceanos é também mitigar a crise climática — o oceano é o maior regulador térmico do planeta.
RD: Como o Ceará pode contribuir na agenda sustentável ambiental do planeta?
RAS: Acredito que o Ceará tem um papel estratégico por sua localização geográfica e vantagens locacionais. Está na linha de frente da transição energética, com potencial enorme em energia eólica onshore e offshore, solar e produção de hidrogênio verde, o que facilita o desenvolvimento da transformação digital, com o uso de IA, com menor impacto, por exemplo. Temos também uma costa riquíssima e um ecossistema de inovação que está amadurecendo. O que precisamos é de mais articulação entre governo, empresas, academia e sociedade civil para transformar esse potencial em projetos que combinem desenvolvimento, inclusão e regeneração ambiental. A iniciativa Blue Ceará, que estamos estruturando, procurando unir o ecossistema cearense ligado ao mar, envolvendo desde empresas ligadas à geração de energia, como empresas ligadas à pesca, turismo e esportes, é justamente uma tentativa de articular esses atores em torno de uma agenda integrada da economia azul.
RD: Qual é a sua opinião sobre países e governos que negam a transformação ambiental e climática do mundo, como o governo Trump?
RAS: Entendo que negar as mudanças climáticas hoje é irresponsável e perigoso. Entretanto, prefiro sempre abordar esse tema a partir dos valores que me guiam — porque acredito que a sustentabilidade não deve ser tratada apenas como um imperativo ambiental, mas como uma oportunidade para repensarmos o nosso modelo de desenvolvimento. Meus valores incluem a ideia de que “não existe Planeta B”, de que devemos falar abertamente sobre os desafios, agir com base científica, com gentileza e sempre incluindo as pessoas diretamente afetadas. Esses princípios me ajudam a construir pontes, inclusive com quem ainda vê com ceticismo a transição climática. Por isso, ao invés de simplesmente criticar governos que negam as mudanças climáticas, procuro compreender os contextos e oferecer uma visão de responsabilidade ambiental com viabilidade econômica e justiça social. A transição para uma economia de baixo carbono não precisa ser uma ameaça — ela pode ser uma alavanca de desenvolvimento, geração de empregos e inovação, especialmente para países do Sul Global. Negar a realidade climática é, no fundo, abrir mão dessas oportunidades. O que proponho é um caminho que concilie ciência, inclusão e desenvolvimento sustentável. É possível avançar — desde que haja diálogo, visão de longo prazo e compromisso com as futuras gerações.
RD: Qual é o papel, de forma prática, que cada pessoa pode fazer para mitigar os efeitos trágicos das mudanças climáticas?
RAS: A crise climática pode parecer, à primeira vista, um problema distante, quase abstrato. Mas a verdade é que ela está presente no nosso dia a dia — nas chuvas mais intensas, nas secas prolongadas, no aumento do custo dos alimentos. E justamente por isso, o enfrentamento dessa crise também começa no cotidiano, nas escolhas de cada pessoa. Muitas vezes a gente reduz essa discussão a atitudes individuais como reciclar, consumir menos plástico ou economizar energia. Claro que essas ações são importantes. Mas o papel de cada um vai além disso. É também um papel cidadão: questionar, se informar, participar. Cada pessoa pode — e deve — exigir políticas públicas mais sustentáveis, apoiar empresas comprometidas com práticas responsáveis, engajar-se em projetos locais de reflorestamento, de limpeza urbana, de educação ambiental. Pode conversar com seus filhos sobre o que está acontecendo com o planeta, pode levar esse debate para o trabalho, para os grupos de amigos, para o bairro. Acredito muito no poder do exemplo. Quando agimos com coerência, a nossa atitude reverbera. A transformação coletiva começa quando pessoas comuns passam a agir com consciência — não só por obrigação, mas por entenderem que fazer parte da solução é um gesto de responsabilidade e de esperança.
A Floresta Amazônica concentra esperança e desafios da agenda climática global. Foto: Lúcia Barreiros
Amazônia: Símbolo e Desafio
Escolher Belém como sede da COP 30 é uma decisão carregada de simbolismo e estratégia. A cidade está localizada na porta de entrada da Floresta Amazônica, um dos maiores e mais importantes ecossistemas do planeta. A região amazônica desempenha papel crucial na regulação do clima global, absorvendo grandes quantidades de carbono da atmosfera. Contudo, também é um território marcado por desafios estruturais, desmatamento, conflitos fundiários e vulnerabilidades sociais. Ao trazer a COP para a Amazônia, o Brasil sinaliza ao mundo que está disposto a colocar sua maior riqueza ambiental no centro das negociações, não apenas como tema, mas como espaço vivo de diálogo entre governos, povos indígenas, comunidades tradicionais, cientistas e sociedade civil. É também uma maneira de chamar atenção para a urgência de políticas que conciliam preservação ambiental, justiça social e desenvolvimento sustentável.
Lideranças e Contradições
Nos últimos anos, o Brasil experimentou momentos ambíguos em sua política ambiental. Se por um lado, foi protagonista na criação de mecanismos como o Fundo Amazônia e referência na geração de energia limpa, por outro, enfrentou críticas por retrocessos ambientais, flexibilização da legislação e crescimento do desmatamento. O novo governo tenta reverter essa imagem e retomar o protagonismo perdido, com o compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030, revitalizar órgãos de fiscalização e ampliar a participação de comunidades locais nas decisões ambientais.
A realização da COP 30 no país pode consolidar esse novo posicionamento, especialmente se vier acompanhada de avanços reais em políticas públicas e na atração de investimentos internacionais para projetos sustentáveis. A presença de chefes de Estado, lideranças indígenas, cientistas e ativistas em solo brasileiro pode pressionar por medidas mais ambiciosas, mas também oferece a chance de reconciliação entre desenvolvimento e proteção ambiental.
Para a secretária de Meio Ambiente e Mudanças do Clima do Estado do Ceará, Vilma Freire, essa é uma pauta relevante a ser discutida. Ela defende que pode haver uma conciliação entre avanços tecnológicos e econômicos de forma sustentável. Lideranças ligadas a questões ambientais do Ceará participarão da COP 30 e esperam resolutiva no que diz respeito a três temas: Transição Energética, já que hoje o Ceará é um dos estado-cabeças na discussão sobre uma energia mais renovável; Recaatingamento, pois, possui um dos territórios nordestinos brasileiros que mais detém esse bioma, e Mercado de Ativos Ambientais – um dos mercados futuros em evidência gerando muitos benefícios financeiros aos seus participantes. A Revista DISCOVER também conversou com a secretária do Governo Estadual do Ceará, Vilma Freire.
A secretária de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Ceará, Vilma Freire, destaca o papel estratégico do estado na transição energética e na valorização do bioma Caatinga na COP30.
Revista DISCOVER: O financiamento climático foi apontado como um dos principais desafios estruturais da COP 30. Que avanços concretos o Brasil pode esperar alcançar nesse campo durante uma conferência?
Vilma Freire: No último dia 19 de junho, em Bonn, na Alemanha, o governo brasileiro apresentou uma proposta que busca traçar um plano concreto de financiamento climático global até a COP 30. Batizado de Roadmap de Baku a Belém, o objetivo do roteiro apresentado em Bonn é viabilizar fluxo de US$1,3 trilhão anuais para financiamento climático para países em desenvolvimento. Fato é que, a urgência de se resolver essa questão do financiamento climático. A expectativa é que com a COP 30, seja uma realidade tangível para os países em desenvolvimento. Para que o financiamento climático aconteça, é preciso reforçar a articulação entre a política climática e a econômica. Sou, particularmente, defensora de que se deva discutir uma política firme e integrada para a mitigação climática, mas também que ela venha alinhada com o desenvolvimento econômico. Isso é uma diretriz de nossa gestão porque quando falamos de natureza, clima, territorialidade estamos falando de pessoas. Pessoas que vivem e precisam viver em seus territórios-lugares.
RD: Há uma expectativa de que o evento fortaleça a criação de novos mecanismos de financiamento climático para países em desenvolvimento. Qual é a posição do Governo do Ceará neste sentido?
VF: O governo do Estado do Ceará, na gestão do governador Elmano de Freitas, está alinhado com a política ambiental do Governo Lula. A urgência climática é uma agenda prioritária para o Brasil e esse é um dos motivos que está recebendo um evento de importância e legado histórico.
RD: Quais são as preposições que o Ceará acessa para a COP 30. Tem uma agenda específica para que o Estado se alinhe e vá participar?
VF: No momento, foram criados três grupos de trabalhos (GT) temáticos – Transição Energética, Recaatingamento, Mercado de Ativos Ambientais. As questões serão discutidas para a construção de uma proposta para integrar a Região Nordeste, a exemplo da questão da transição energética, ao relatório nacional que será apresentado na COP 30. Os GT’s vão trabalhar e mostrar que o Nordeste é simultaneamente a região mais vulnerável às mudanças climáticas e a mais promissora para a chamada descarbonização da economia. Com relação ao bioma Caatinga, os GT’s vão buscar desenvolver e implementar ações integradas de combate à desertificação do bioma, apresentando as potencialidades do mesmo e como o principal ecossistema/bioma da região nordeste. Na realidade, vai apresentar a Caatinga, mostrar o potencial do ainda bioma menos conhecido do País. No entanto, o bioma não é reconhecido como patrimônio nacional. E o pior, a fauna e flora do bioma, predominante no semiárido brasileiro, seguem ameaçadas por práticas degradativas.
RD: Como garantir que os fundos internacionais de clima cheguem de forma eficiente e transparente às questões ambientais e aos territórios cearenses que mais precisam?
VF: Já foi entregue ao Governo Federal a proposta de criação de um fundo para financiar atividades de preservação da Caatinga. A ideia é captar investimentos, inclusive no exterior, para investir em atividades de prevenção, monitoramento, combate à desertificação, ao desmatamento e de promoção da conservação e do uso sustentável do bioma e seu reflorestamento. O Fundo da Caatinga deverá funcionar como o Fundo Amazônia.
RD: Quais são as suas expectativas em relação ao protagonismo da sociedade civil na COP 30, especialmente no que diz respeito à conservação da biodiversidade. Qual é a posição da SEMA?
VF: Vejo a COP 30 (diz mais uma vez) como uma oportunidade histórica para a Região Nordeste, principalmente, que quase nunca ou nunca tem suas questões climáticas discutidas no centro das grandes conferências da ONU. Espero que a COP nos permita demonstrar nossos esforços em áreas como energias renováveis, reflorestamento e agricultura de baixo carbono, por exemplo.
Povos originários da Amazônia assumem protagonismo na COP30, levando seus saberes tradicionais e reivindicações. Foto: Levi Tapuia
Palco de Múltiplas Vozes
A expectativa é que a COP30 não se restrinja às salas de negociação. Eventos paralelos, fóruns de juventude, painéis com lideranças locais e mobilizações populares devem marcar presença em Belém. A cidade se prepara para receber cerca de 30 mil pessoas de todo o mundo, o que representa também um desafio logístico e de infraestrutura. O governo federal e o estado do Pará já anunciaram investimentos em mobilidade urbana, hospedagem, segurança e conectividade, além de ações para integrar a população local ao evento.
A presença dos povos originários terá papel central nesta edição. Povos indígenas da Amazônia vêm reivindicando voz ativa nas decisões climáticas, com base em seus conhecimentos tradicionais e seu histórico de preservação dos territórios. A COP 30 pode ser um marco para a construção de uma nova governança climática, mais inclusiva, descentralizada e sensível às realidades do Sul Global.
Tatiana Oliveira é líder de estratégia internacional do WWF-Brasil, que é uma organização brasileira dedicada à conservação da vida. Fundada em 30 de agosto de 1996, ela integra a Rede WWF mundial e tem como escopo central atuar em defesa do meio ambiente em todo o país. “Nossa missão é que o ser humano viva em harmonia com a natureza, por isso, trabalhamos forte e consciente em cuidar do planeta, das pessoas e da vida. Para isso, desenvolvemos ações e projetos de campo. Atualmente são mais de 70 projetos na Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica, além dos ecossistemas marinhos na costa brasileira. Agimos sempre com base em sólido conhecimento técnico-científico e com compromisso socioambiental.”, sintetiza Tatiana.
Mas para realização dos projetos é fundamental que haja recursos financeiros. É uma questão real. O financiamento climático tem sido apontado como um dos principais desafios estruturais mundiais e o Brasil não está fora disso. Para Tatiana, “na COP 30, não haverá uma nova negociação de financiamento climático nos moldes do NCQG (Nova Meta Coletiva Quantificada)”.
Em vez disso, segundo ela, “estão em curso dois processos distintos: O B2B Roadmap, cuja proposta de elaboração surgiu diretamente da negociação do NCQG. Embora não seja uma nova meta de financiamento, trata-se de um esforço para indicar caminhos para alcançar o volume de US$ 1,3 trilhão anuais em financiamento climático até 2035, complementando a decisão tomada em 2024 sobre a nova meta coletiva quantificada (NCQG), fixada em US$ 300 bilhões anuais”, disse ela.
Ainda segundo Tatiana, como a responsabilidade pela construção do B2B Roadmap foi atribuída às presidências da COP 29 e COP 30, tanto o Azerbaijão quanto o Brasil têm um papel central no desenho e encaminhamento desse processo. Também está em curso a discussão sobre o Artigo 2.1(c) do Acordo de Paris, que trata da necessidade de alinhar os fluxos financeiros globais com caminhos de desenvolvimento de baixo carbono e resilientes ao clima”, completou.
Organizações como a WWF-Brasil reforçam a importância do financiamento climático e da participação popular nas decisões da COP30. Cortesia: wwf.org.br
Para a líder da WWF-Brasil, “essa discussão tem gerado apreensão, especialmente entre os países em desenvolvimento, diante da possibilidade de que a ênfase no financiamento privado agrave a já delicada situação de endividamento que enfrentam”. E completa: “ Nesse contexto, será fundamental que o debate sobre financiamento privado tenha um mandato claro e bem delimitado, que permita: avaliar os benefícios e riscos associados às diferentes fontes, instrumentos e atividades relacionadas ao financiamento privado; discutir os principais obstáculos enfrentados pelos países em desenvolvimento para acessar recursos, e como superá-los; refletir sobre o papel que a UNFCCC pode desempenhar nas discussões sobre reestruturação da dívida externa; identificar fontes alternativas de financiamento que tragam recursos novos e adicionais, e não apenas reembalagem compromissos já existentes, e – por fim, enfrentar uma questão sensível: qual deve ser o papel dos mercados emergentes na mobilização de recursos para a cooperação climática Sul-Sul. A Cúpula do BRICS+ será um espaço para abordar essas questões”.
Tatiana Oliveira enfatiza ainda que “na Conferência do Clima de Bonn, que acontece anualmente como sessão preparatória para as negociações travadas no final do ano, isso é, durante as COP’s, nós testemunhamos como o financiamento, lançado como argumento para bloquear negociações de outras agendas, cresceu como tema e se tornou transversal às discussões. Esse impasse foi causado pelo fato de que os países mais vulneráveis às mudanças do clima precisam, com urgência, de recursos para implementar medidas de mitigação, e, principalmente, adaptação, enquanto os países desenvolvidos vêm rebaixando o clima à agenda secundária e escalando seus esforços de guerra. Precisamos de um horizonte de financiamento previsível, que possibilite o investimento planejado e responsável dos países, com sustentabilidade e justiça social”.
O mundo Espera Resultados
A COP 30 em Belém será muito mais do que um evento diplomático. É uma encruzilhada entre passado e futuro, entre promessas e ações, entre o colapso e a esperança. O Brasil, com sua biodiversidade singular, sua pluralidade cultural e seus dilemas sociais, está sendo chamado a exercer liderança. Não apenas com discursos, mas com compromissos claros, transparência e ações concretas.
O planeta não pode mais esperar. E o mundo inteiro olhará para Belém em novembro, esperando que do coração da Amazônia surjam decisões que reflitam a urgência de um tempo novo – onde natureza e humanidade caminhem juntas rumo à sobrevivência comum.
A história das conferências do clima revela avanços, impasses e a urgência crescente por ações efetivas contra a crise climática global.
Evolução das Conferências do Clima
- 1995 – COP 1 (Berlim, Alemanha)
Início das negociações formais sob a Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Estabeleceu a necessidade de ações futuras.
- 1997 – COP 3 (Quioto, Japão)
Protocolo de Quioto: primeiro acordo legalmente vinculante para redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) nos países desenvolvidos.
- 2001 – COP7 (Marrakech, Marrocos)
Adotados os “Acordos de Marrakech”, que detalharam regras para implementação do Protocolo de Quioto.
- 2009 – COP 15 (Copenhague, Dinamarca)
Altas expectativas, mas resultados limitados. Criado o Acordo de Copenhague, reconhecendo a meta de 2°C, mas sem força legal.
- 2015 – COP21 (Paris, França)
Acordo de Paris: todos os países se comprometem com metas próprias de redução de emissões (NDCs), com revisão a cada 5 anos. Meta de manter o aquecimento abaixo de 2°C e buscar 1,5°C.
- 2021 – COP 26 (Glasgow, Reino Unido)
Pressão por maior ambição climática. Iniciativas para reduzir uso de carvão e subsídios a combustíveis fósseis. Revisão das metas do Acordo de Paris.
- 2022 – COP 27 (Sharm el-Sheikh, Egito)
Criação do fundo de “perdas e danos” para países vulneráveis. Avanços tímidos em cortes de emissões.
- 2023 – COP 28 (Dubai, Emirados Árabes Unidos)
Primeira “avaliação global” das metas do Acordo de Paris. Debates intensos sobre a eliminação de combustíveis fósseis.
- 2025 – COP 30 (Belém, Brasil)
Primeira COP em território amazônico. Espera-se que seja o momento de consolidação de novos compromissos climáticos globais, com foco na justiça climática, preservação da biodiversidade e financiamento climático.
