Fortalecendo Laços Comerciais: Uma Jornada de Cinco Décadas da Câmara de Comércio Brasil-Canadá
A BCCC celebrou meio século de atividades durante a realização da 16ª edição do Doing Business in Brazil
Por Leila Monteiro Lins | 16 de janeiro de 2024 | Fotos Dave Burke
Participantes da 16a. edição do evento Doing Business in Brazil, que fez parte da celebração dos 50 anos da Brazil-Canada Chamber of Commerce (BCCC).
A Câmara de Comércio Brasil-Canadá foi fundada em 1973, como uma instituição empresarial independente e sem fins lucrativos, mantida pelo setor privado, com o objetivo principal de promover relações comerciais mais fortes entre o Brasil e o Canadá. A entidade oferece três serviços: Advocacia e Acesso Governamental, Informação Qualificada e Insight e Conectividade. A presidente da BCCC, Paola Saad, salienta que a Câmara nos últimos cinquenta anos não ofereceu apenas informação qualificada, a entidade permitiu que ideias e projetos se redimensionassem e se transformassem em inúmeros casos de sucesso. “Além de conectividade, aconteceram abraços, apertos de mãos, novas amizades, novo recomeço, parceria e pluralidade”, disse ela.
Plataformas de apoio
Presidente da Brazil-Canada Chamber of Commerce (BCCC), Paola Saad.
De acordo com Saad, dentro das comissões setoriais, a BCCC oferece uma plataforma em que apoia diálogos e cooperação entre empresas, governo e instituições setoriais estratégicos, como agricultura, educação, infraestrutura, investimento, tecnologia e mineração. Ela cita como exemplo o PDAC, o maior evento de mineração do mundo.
“A BCCC apresenta e co-apresenta uma média de seis eventos de alto nível”, destaca Saad, “com a participação de ministros, governadores, embaixadores e secretários de Estado – incentivando o networking entre empresas brasileiras e canadenses, além de criar oportunidades de colaboração e negócios”. E fez ainda questão de enfatizar que “esses esforços só se multiplicam com as representações que abrimos em diferentes cidades e regiões do Canadá, com a liderança de nosso vice-presidente, Peter Hawkins”.
Vice-presidente da BCCC, Peter Hawkins
Na visão de Hawkins, a BCCC surgiu como um unificador em um mundo cada vez mais fragmentado, onde as pessoas se concentram em suas diferenças e não em suas prioridades compartilhadas. “A entidade sempre será um lugar onde poderemos compartilhar ideias e continuar a nos concentrar no crescimento do relacionamento comercial entre o Canadá e o Brasil “, afirmou.
Hawkins destaca ainda que novas representações estão sendo abertas em todo o país para representar plenamente os interesses canadenses e brasileiros em todo o Canadá.
Países privilegiados
Cônsul Geral do Brasil em Toronto, Wanja Campos da Nóbrega
A 16a edição do Doing Business in Brazil contou ainda com a presença da Cônsul Geral do Brasil em Toronto, Wanja Campos da Nóbrega – que participou do encerramento do evento. Segundo ela, ter uma câmara de comércio ativa para promover o comércio bilateral entre dois países é um privilégio para o Brasil e o Canadá. “As iniciativas conduzidas pela BCCC não se restringem somente ao comércio, mas também aos diversos setores, desde mineração e agricultura até start-ups, sempre comprometidos com as melhores práticas ESG – Environmental, Social & Governance”, afirmou.
A embaixadora fez um balanço do volume de negócios entre Brasil e Canadá nos últimos 25 anos. “O fluxo comercial entre Brasil e Canadá era inferior a 20% do volume que vemos hoje. Agora, nossas plataformas de dados mostram que o Canadá consolidou sua posição como um grande parceiro comercial do Brasil sendo o 13º mercado mais importante para as exportações brasileiras e o 12º maior mercado exportador para o Brasil”, disse.
16a. Edição do Doing Business in Brasil: Debates e Networking
O Doing Business in Brazil foi criado para mostrar as últimas tendências, oportunidades e dicas práticas para empresas interessadas no mercado de negócios bilateral entre Brasil e Canadá. Durante a 16a edição do evento, foi oferecido um coquetel para comemorar os 50 anos do BCCC, sendo que essa foi mais uma grande oportunidade para networking entre os participantes.
O evento foi dividido em dois painéis: Desafios e Oportunidades no Mercado Brasileiro e um bate-papo sobre a economia do futuro.
A Discover Magazine conversou com especialistas para capturar meio século da BCCC e conhecer melhor as relações de negócios entre os dois países.
John Welch, fundador e CEO da Research for Emerging Markets
Discover Magazine – Quais são os principais desafios do mercado brasileiro?
A deterioração da situação fiscal, a falta de reformas, especialmente no âmbito do comercio exterior e o fato de o Brasil ter ainda uma economia muito fechada cria obstáculos.
DM – Quais são os caminhos mais férteis para os canadenses seguirem para obterem maior chance de usufruir das oportunidades que o Brasil tem a oferecer?
Os canadenses já têm participação muito forte na economia e no mercado. Os ativos reais dos grandes fundos de pensão são especialmente os ativos vendidos pelo Estado (BRT, e outros, e concessões).
DM – Quais são os setores que estão tendo uma melhor atuação neste momento?
Agroindústria, imóvel (+9.8%), renda fixa, alojamento e tecnologia.
DM – Como os canadenses devem se preparar para entrar no mercado brasileiro? Poderia citar três ações fundamentais para serem tomadas pelos empresários e três que devem ser evitadas?
Seguir desdobramentos setoriais, identificar um bom e confiável parceiro e familiarizar-se com os possíveis clientes e a competição.
Ingrid Polini, fundadora e CEO da SafetyDocs Global
DM – Quais são as principais oportunidades oferecidas pelo Brasil neste momento?
Uma grande oportunidade no Brasil neste momento é a mão de obra qualificada. Muitas empresas canadenses têm dificuldade de encontrar profissionais com as qualificações necessárias principalmente na área de tecnologia. Além disso as startups brasileiras são extremamente eficazes e têm uma capacidade enorme de trabalhar com investimento para que dure longamente, utilizando os recursos de forma mais eficaz.
DM – Quais são os principais desafios do mercado brasileiro?
O mercado brasileiro mostra desafios para empresas que querem entrar no seu mercado devido em parte à burocracia. Para empresas que vêm de países como Canadá e querem se estabelecer no Brasil, precisam entender que é necessário buscar as parcerias certas para que tenham uma facilidade maior em entrar no mercado brasileiro.
DM – Como os canadenses devem se preparar para entrar no mercado brasileiro? Buscar os parceiros certos para apoiar a expansão e evitar o pensamento equívoco de que o Brasil não é um país tecnológico. Por isso, deve-se fazer uma extensa pesquisa para entender o mercado brasileiro e buscar contratar pessoas locais que entendem do mercado brasileiro para as diversas áreas e principalmente as de vendas e marketing.
Arnon Melo, Presidente da MELLOHAWK Logistics
DM – Quais são os principais desafios para os canadenses que almejam alcançar o mercado brasileiro?
O Brasil não é corrupto quando se trata de alfândega. Não confunda leis e regulamentos com corrupção. O Brasil possui um processo de importação e exportação automatizado e altamente sofisticado quando se trata de alfândega. O sistema tributário e regulatório brasileiro é notoriamente complexo. Os impostos, as regras de importação/exportação e a burocracia podem ser difíceis de entender e cumprir. É essencial obter aconselhamento jurídico e contábil especializado para navegar por essas complexidades. Enquanto as barreiras alfandegárias, como tarifas e taxas de importação, podem afetar significativamente os custos e o tempo de entrada no mercado brasileiro. Conhecer as regras e tarifas alfandegárias é fundamental para planejar adequadamente. Quanto às diferenças culturais e linguísticas, compreender as nuances culturais e linguísticas é crucial para estabelecer relacionamentos de negócios bem-sucedidos e adaptar estratégias de marketing. Já a vasta extensão geográfica do Brasil e a qualidade variável das infraestruturas de transporte podem dificultar a logística e a distribuição de produtos. Planejar uma cadeia de suprimentos eficaz é fundamental. Adaptar produtos e serviços para atender às necessidades e preferências locais é muitas vezes necessário para ter sucesso no mercado brasileiro. O Brasil frequentemente experimenta flutuações na taxa de câmbio. Isso pode afetar os custos de importação/exportação e a rentabilidade dos negócios. E o ambiente de negócios no Brasil pode variar dependendo do setor e da localização. Ter um parceiro local é fundamental para o sucesso de qualquer negócio.
DM – Você poderia citar melhorias no sistema logístico do Brasil? O que melhorou e o que ainda precisa de aprimoramento?
O governo brasileiro tem feito investimentos significativos em infraestrutura de transporte, incluindo rodovias, portos e aeroportos. Isso tem melhorado a conectividade e a capacidade de movimentação de mercadorias, mas um setor que ainda precisa de muita melhoria e o setor ferroviário. O Brasil ainda precisa investir em ferrovias para melhorar o seu processo logístico interno. Muitos portos brasileiros passaram por modernização e expansão nos últimos anos, o que resultou em maior eficiência no manuseio de containers e redução de gargalos logísticos e atrasos. A adoção de tecnologias avançadas, como sistemas de rastreamento e gerenciamento de frota, tem melhorado a visibilidade e o controle da cadeia de suprimentos. O governo brasileiro tem trabalhado na simplificação de processos alfandegários e redução da burocracia, o que beneficia o comércio internacional. Hoje em dia uma empresa pode obter uma autorização para importar ou exportar em 48 horas. No passado esse processo demorava em média um mês.
DM – Na sua visão, qual será o futuro para a logística no Brasil?
O futuro da logística no Brasil é cercado por desafios e oportunidades. Investimentos contínuos, inovação tecnológica, melhoria na regulamentação e maior eficiência operacional são fatores que podem contribuir para um cenário logístico mais otimista no país. Além disso, a conscientização sobre questões ambientais e sustentabilidade provavelmente terá um papel crescente nas decisões logísticas. É importante notar que a logística é uma área complexa e interconectada, e mudanças significativas podem levar tempo como é o caso da melhoria ferroviária. A colaboração entre o setor público e privado, juntamente com esforços contínuos de aprimoramento, é essencial para alcançar melhorias sustentáveis na logística brasileira.
DM – Quais seriam as sugestões que você daria para empresários que estão planejando entrar no mercado brasileiro?
Realize uma pesquisa de mercado detalhada para entender a demanda, concorrência, preferências do consumidor e regulamentações específicas do setor. Avalie o tamanho do mercado e o potencial de crescimento em sua área de atuação. Considere estabelecer parcerias estratégicas com empresas locais. Escolha parceiros com experiência e reputação sólida no mercado brasileiro. O consulado canadense no Brasil e os Trade Commissioners podem ajudar a encontrar esses parceiros. Familiarize-se com as regulamentações e leis brasileiras que se aplicam ao seu setor. Isso inclui questões tributárias, aduaneiras, trabalhistas e regulamentações específicas do setor. Consulte um advogado local e uma empresa de logística que tenha conhecimento do mercado local caso envie produtos ao Brasil. Entenda a cultura brasileira e as nuances regionais. Ter proficiência em português ou contar com uma equipe que fale o idioma é vantajoso para comunicação eficaz. Planeje cuidadosamente sua cadeia de suprimentos e logística, considerando a vasta extensão geográfica do Brasil e a qualidade variável das infraestruturas de transporte. Avalie opções de armazenamento e distribuição estrategicamente e trabalhe com um agente de carga no Canadá que entenda do que se passa no Brasil. Adapte sua estratégia de marketing para atender às preferências e comportamentos dos consumidores brasileiros. Esteja presente nas redes sociais e plataformas online populares no Brasil.
Philippe Jeffrey, chefe do Departamento Canadense da FCR Law
DM – Quais são os principais desafios do mercado brasileiro?
O Brasil tem uma carga tributária ainda muito alta, o que pode aumentar os custos de produção e diminuir a competitividade das empresas brasileiras. E o sistema tributário brasileiro é bastante complexo e sujeito a mudanças frequentes, o que pode dificultar o cumprimento das obrigações fiscais. A reforma tributária sobre consumo, que deve ainda ser aprovada ainda este ano, deve ter o efeito de simplificar bastante o sistema, reduzir o custo de compliance e trazer mais segurança jurídica. A burocracia brasileira é ainda complexa, assim um investidor canadense que quer iniciar operações no Brasil, deve iniciar os procedimentos para abrir uma empresa com bastante antecedência, cujo prazo normal é de dois a três meses.
DM – Quais são as principais oportunidades oferecidas pelo Brasil neste momento?
O Brasil tem uma população de mais de 200 milhões de pessoas com uma média de idade um pouco acima de 33 anos. O mercado consumidor está em expansão e oferece oportunidades para empresas de diversos setores, como tecnologia, consumo e serviços. E seus recursos naturais oferecem oportunidades para empresas de diversos setores, como mineração, energia e agricultura. Mesmo com uma carga tributária alta, o Brasil tem custos de produção competitivos em comparação com outros países desenvolvidos, o que torna o país um destino atraente para empresas que buscam reduzir seus custos.
DM – Quais são os setores que estão tendo uma melhor atuação neste momento?
O setor de tecnologia está crescendo rapidamente no Brasil, e oferece oportunidades para empresas de software, e-commerce e serviços de tecnologia da informação. O setor de energia está em expansão, e oferece oportunidades para empresas de petróleo e gás, energia renovável e eficiência energética. Já o agrícola é um dos principais setores da economia brasileira, e oferece oportunidades para empresas de agronegócio, alimentos e bebidas.
DM – Como os canadenses devem se preparar para entrar no mercado brasileiro? Poderia citar três ações fundamentais para serem tomadas pelos empresários?
Antes de entrar no mercado brasileiro, é importante entender o mercado e tomar o tempo necessário para fazer uma boa due diligence, procurando entender a cultura, as leis e os regulamentos brasileiros. É importante construir relacionamentos com parceiros locais para maximizar as chances de sucesso no país. O Brasil tem um sistema legal e regulatório complexos. É primordial trabalhar com um bom consultor tributário e jurídico para entender as leis e regulamentos que se aplicam ao setor de atuação do país.
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