Um brinde à Felicidade!
Heineken provoca barulho no mercado corporativo ao criar diretoria da felicidade
A jornada de trabalho não é mais a mesma. Uma revolução está em andamento, e ela ganhou força durante a pandemia. Foi quando muitos profissionais descobriram que não é preciso entregar de bandeja sua saúde mental, em troca de uma carreira. Foi quando a felicidade no trabalho passou a importar, deixando de ser um sonho pessoal inatingível, para se tornar uma meta profissional bem planejada dentro de algumas corporações.
Por Andressa Missio | 30 de junho de 2023 | Créditos: Pinterest
O Grupo Heineken está entre as empresas mais recentes – e uma das que provocou maior burburinho no mercado – a anunciar a nova diretoria da Felicidade, que prevê cuidar dos 14 mil funcionários espalhados pelo Brasil. Medir o nível de felicidade de cada colaborador, bem como implementar ações para melhorar o índice, estão entre as atividades da equipe, comandada pela diretora Livia Azevedo. A diretoria agrupa profissionais de recursos humanos e de saúde, como psicólogos e médicos. A cada quinze dias, os funcionários recebem uma pesquisa que mede o indicador de felicidade, tanto na vida profissional quanto na pessoal.
CID 11 – Burnout
A Heineken não é a primeira – e que não seja a última! – a criar uma diretoria voltada ao bem-estar dos colaboradores. Para não sair do ramo das cervejarias, outro exemplo é a Ambev, que possui uma diretoria de diversidade, inclusão e saúde mental. Michele Salles, fundadora do Carreira Preta, é a líder desde 2022, mas o cargo já existia – ainda que com algumas diferenças, mas já voltada à saúde mental dos colaboradores – desde 2020.
O período coincide com um fenômeno que vem transformando o mercado de trabalho. Trata-se da tal revolução, citada rapidamente no início deste artigo. Tudo começou quando um número incontável de trabalhadores se viu exausto, esgotado física e psicologicamente, como resultado de uma carga de trabalho desgastante e extenuante, que demanda competitividade, excesso de responsabilidades… aliás, alguém aí se identifica?
Virou caso de saúde pública. Tanto é que a síndrome de burnout ganhou “status” de doença ocupacional, pela Organização Mundial de Saúde. Tem até CID – o CID 11-Burnout (esgotamento). O termo não poderia ser mais adequado. De origem inglesa, parte da união de duas palavras: burn e out, que respectivamente significam queimar e fora. A união poderia ser traduzida por algo como “ser consumido pelo fogo”. Quem sofre da síndrome compreende bem a alusão.
A revolução inclui outras tendências. A redução da jornada semanal de trabalho para 4 dias, em vez de 5, é uma delas. E vem se espalhando por diversos países, mesmo que na maioria, em fase de testes.
O que você quer ser quando crescer?
A pergunta insistentemente ouvida na infância já não faz mais tanto sentido, desde que outra tendência ganhou força: a transição de carreira. “Não está feliz nessa profissão? Pois vá atrás de outra! A vida é curta pra ser infeliz no trabalho, só porque você o escolheu lá atrás, jovem demais…” É nesse conceito que um batalhão de gente vem se apoiando, e transformando seus futuros, suas vidas.
Tão comum quanto outro grupo enorme de pessoas que pediu demissão de seus empregos para empreender. Ser dono do próprio negócio, do próprio nariz, seja para não ter que se submeter a regras do mundo corporativo, seja para ter liberdade de fazer os próprios horários e rotinas. Ou ainda, para ter mais tempo para a família, para os filhos. É outra tendência que chegou junto com a pandemia.
Largar uma carreira bem-sucedida em uma multinacional para viajar pelo mundo a bordo de um motorhome – ou de um veleiro – também já não causa tanto espanto nos dias de hoje. São inúmeras as histórias de pessoas, casais e até famílias inteiras que embarcam em aventuras semelhantes.
Novo cargo no mercado
As empresas estão percebendo esse movimento, que talvez tenha começado com as gerações mais novas, mas hoje não é exclusividade delas. Portanto, para reter talentos, oferecer um bom salário e um bom cargo não é mais suficiente. Sentir-se feliz no trabalho, sentir-se parte de um propósito, sentir-se fazendo a diferença passaram a importar não só para os gestores e colaboradores, mas também para a alta diretoria que quer ver a corporação crescer.
É aí que entra o CHO – Chief Happiness Officer – cargo que ganhou relevância no Brasil. As empresas vêm notando que investir na felicidade de seus colaboradores é ganhar em produtividade e reduzir rotatividade. Fora do ramo das cervejarias, Google e Tecfil são exemplos que já implantaram essa função.
O Instituto Feliciência trouxe a certificação Chief Happiness Officer para o Brasil em 2020. Em maio de 2023, o centro de formação nos campos de ciência relacionados ao bem-estar humano e à felicidade celebrou o marco de 400 CHO certificados no país. E está oferecendo novos grupos para formação, especialmente para perfis que já trabalham em RH.
Felicidade no Trabalho
O fato é que buscar a ‘Felicidade no Trabalho’ deixou de ser uma busca exclusiva do colaborador. As empresas compreenderam – ou ao menos começaram a entender – suas responsabilidades no bem-estar e na motivação de seus profissionais. E isso vai muito além de oferecer uma sala de jogos ou de descanso para quem quer relaxar após o horário de almoço. Passa pelo clima organizacional, pela saúde física e mental do funcionário – ainda que fora do escritório.
A Heineken acertou ao criar a Diretoria da Felicidade. Não só pelo bem-estar de seus 14 mil funcionários, mas pelo exemplo. Que outras empresas bebam desta mesma fonte. Tim Tim!
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