Juliana de Paula: Empreendedora Brasileira Conquista o Mercado Canadense
A loja Brazilian Market é a nova ‘cara’ dos brasileiros no Canadá
Por Rosana Dias Lancsarics | 15 de junho de 2023
Juliana de Paula é a empreendedora por trás do Brazilian Market, a loja que está se tornando a “cara” dos produtos brasileiros no Canadá. A empresa foi criada há cinco anos com vendas feitas pela internet, expandindo em seguida para vendas em depósito e – em fevereiro deste ano, abriu uma espaçosa loja em Toronto. A loja oferece mais de mil produtos brasileiros, incluindo doces variados, salgadinhos, sucos e refrigerantes, carnes, café, farinhas, produtos de higiene e limpeza. Os campeões de vendas são: tapioca, farofa Yoki, biscoito de polvilho, batata palha, pão de queijo Forno de Minas e pipoca doce.
De Paula administra os negócios e fecha parcerias no espaço da loja. Ela também anuncia ofertas, divulga degustações e ensina receitas nas mídias sociais por meio das páginas do brazilianmarket.ca. Quando pequena, Juliana fez comerciais para televisão, mas nunca levou isso a sério e, confessou, que já chegou a detestar redes sociais.
Juliana morava em Vaughan e precisava viajar 30 km para comprar produtos brasileiros em Toronto, o que a levou a criar a loja online. Durante a pandemia, o negócio cresceu da noite para o dia. Nessa entrevista para a Discover Magazine, ela conta um pouco da trajetória dela, aprendizados, a paixão pela família e pelo Brazilian Market.
Equipe do Brazilian Market, liderada pela empreendedora Juliana de Paula, trabalhando incansavelmente para fornecer os melhores produtos e serviços aos clientes.
DISCOVER MAGAZINE – Poderia nos contar um pouco mais da sua história? Sua formação acadêmica/profissional no Brasil, o que lhe trouxe ao Canadá e quais as atividades que você exerceu por aqui?
Juliana – Sou de São Paulo, capital, filha de um cirurgião dentista e de uma professora. Não terminei minha faculdade de Administração de Empresas no Mackenzie para vir estudar aqui no Canadá em 2002, e fiquei desde então. Me casei, tive filhos cedo e decidi, na época, ficar em casa cuidando deles e administrando a companhia do meu, então, marido.
DM – Quando você percebeu que havia uma oportunidade para criar a Brazilian Market?
Juliana – Surgiu quando eu estava me divorciando e precisava de algo para seguir minha vida e criar meus filhos. Sentada conversando com amigas que também precisavam fazer algo da vida e, numa conversa, o BM surgiu.
DM – Como foi esta experiência no início?
Juliana – Foi muito trabalho e esforço, tanto para convencer as distribuidoras locais, quanto para conquistar os clientes. Tudo era algo totalmente inovador e ainda gerenciado, na época, por duas mulheres.
DM – Tem uma história boa para contar dos primeiros tempos da Brazilian Market?
Juliana – Muitas. Erramos muito no começo. Minha sócia saiu logo em seguida e segui em frente sozinha em um momento bem delicado da minha vida. Tive muito apoio de amigos e familiares, os quais me fizeram continuar. Porém, errei com encomendas, endereços, chorei muito quando recebi críticas, quis desistir muitas vezes porque o ser humano pode ser muito cruel.
DM – Qual foi a grande lição em lidar com produtos brasileiros online?
Juliana – É e continua sendo: manter-se atualizado com os novos produtos, inovando e, ao mesmo tempo, mostrando que somos seres humanos em uma pequena empresa, buscando sempre fazer o nosso melhor. Fazemos questão, mesmo sendo online, de manter um atendimento humanizado e atencioso.
DM – Quais são as dificuldades e desafios que você vê em trabalhar e depender da importação e exportação de produtos brasileiros?
Juliana – A importação é extremamente difícil, além do Canadá ser muito rigoroso, lidamos com prazos curtos e custos de transporte muito altos. Mas percebemos um interesse mútuo com os importadores, e estamos cada vez mais unidos, tentando trabalhar da melhor forma possível para trazer cada vez mais produtos.
DM – Você fez alguma pesquisa de mercado sobre a comunidade brasileira no Canadá? Você poderia nos informar alguns números?
Juliana – Eu não fiz nada disso. As coisas aconteceram muito rápido. Eu não tinha nem estrutura, nem dinheiro para pesquisa, era um risco.
Fachada da Brazilian Market na Dufferin St.: A porta de entrada em Toronto para os sabores genuinamente brasileiros.
DM – Em termos de negócios, você está fazendo o caminho contrário de muita gente: você começou online e depois passou a vender pessoalmente em um depósito. Em seguida abriu uma loja, que é um sucesso. Você poderia nos contar sobre as oportunidades que vislumbrou e por que expandiu dessa forma?
Juliana – Comecei online porque mesmo estando aqui há 20 anos, eu mesma usava muitos produtos brasileiros, mas morava em Vaughan e tinha que ir para Toronto buscar os produtos. Foi aí que começou a surgir a ideia do online. Durante a pandemia, meu mercado cresceu rapidamente e foi uma loucura. Eu não tinha dinheiro para investir, então comprava apenas uma coisa de cada vez, contando cada centavo, enquanto ainda tentava ganhar a confiança dos distribuidores. Foi então que precisei mudar para um depósito, o que foi assustador e incerto. Entretanto, com muito apoio dos amigos e familiares, eu decidi seguir em frente. Como o mercado era um dos poucos lugares abertos durante a pandemia, nossos clientes pediam para entrar. Foi assim que surgiu a necessidade de abrir as portas ao público, embora a localização não fosse a ideal, já que esse não era o plano original.
Depois de um ano procurando pelo lugar certo, finalmente encontramos a Loja BM, exatamente onde eu havia planejado. Desde o começo, eu sempre quis ter um espaço com vários serviços brasileiros. Assim que encontrei o local perfeito, comecei a procurar empreendedores para fechar parceria. Hoje em dia, temos um stand de bijuterias, um spa, um brechó e um office de cílios e micro pigmentação. Em breve, também teremos mais novidades dentro desse espaço.
DM – Quantos itens você tem em linha hoje?
Juliana – Já perdi a conta. Acredito que tenha mais de mil itens.
DM – Quais são os campeões de venda?
Juliana – Tapioca, farofa Yoki, biscoito de polvilho, batata palha, pão de queijo, Forno de Minas, pipoca doce.
DM – Aos poucos, você passou a ser também uma “garota-propaganda” da marca nas mídias sociais: anuncia ofertas e até ensina receitas. Já tinha experiência na área ou a “necessidade fez a oportunidade”?
Juliana – Quando era criança, fiz alguns comerciais para televisão, mas nunca levei isso a sério e, sinceramente, detestava redes sociais. De tempos em tempos, preciso me desligar e respirar, mas o carinho que recebo é absurdo. Recebo muito carinho, tanto no inbox quanto na loja. As pessoas me procuram para parabenizar, conversar e pedir produtos. Já não me chamam pelo nome, me chamam de Brazilian Market. Eu amo esse contato com o público. Tenho clientes comigo desde quando eu mesma fazia entregas. É muito gostoso receber esse carinho, principalmente daqueles que participaram de toda a história. Hoje, quando eu posto (nas redes sociais), o produto vende, as pessoas comentam e querem experimentar. Ainda estranho. Sou muito simples e reservada, mas o carinho é o que me motiva diariamente. Me sinto abençoada por tudo isso!
DM – Qual é o seu sonho empresarial?
Juliana – Que cada vez mais pessoas conheçam a nossa cultura e a nossa comida. Temos tantas coisas gostosas e fáceis de fazer, basta apenas que as pessoas, nossa comunidade, se unam para isso acontecer. E é isso que faço diariamente! Quero que o Brasil seja reconhecido pelo nosso atendimento, comida e cultura! Deixo claro que não foi fácil: trabalhei noites e dias, de domingo a domingo. Comecei sem dinheiro e muitas vezes pensei em desistir por medo, mas tive e tenho pessoas maravilhosas ao meu lado que me empurraram e me fortaleceram, desde clientes até amigos e familiares.
Com a loja nova, foram dias trabalhando até às 4 da manhã, dormindo na Loja mesmo e sozinha jamais seria capaz disso. A comunidade abraçou a causa e nos deu suporte, o que é gratificante. Meus funcionários se tornaram da família e abraçaram o BM como se fosse deles! Hoje eu emprego pessoas que dependem do salário para sustentar suas famílias. Cinco anos atrás, eu não tinha certeza nem se sobraria para o meu próprio sustento. É muito gratificante olhar para tudo isso! Vale cada minuto trabalhado, cada lágrima derramada! Eu simplesmente sou apaixonada pelo meu trabalho, pelo meu BM, pelo nosso BM, pois ele foi criado para unir nossa comunidade. Ele é meu, é seu, é nosso!
Empreender e surpreender: Garra, paixão e dedicação aos negócios
Juliana de Paula, fundadora do Brazilian Market, cercada pelos produtos brasileiros que ela tanto ama e que têm conquistado o paladar dos brasileiros e canadenses.
A história inspiradora de Juliana de Paula tem sido reconhecida pelos empreendedores da comunidade brasileira de Toronto. Eles contam como Juliana se tornou uma referência e inspiração para eles.
“Juliana sempre foi guerreira. O Brazilian Market é mais um grande passo no crescimento da comunidade brasileira. Sucesso, Ju.”
Angela Mesquita, CEO da Brasil Remittance Inc.
“É maravilhoso ver o crescimento e a expansão do Brazilian Market em Toronto. Lembro como se fosse ontem quando Juliana começou o Brazilian Market em sua casa. O seu crescimento e sucesso da empresa estão diretamente ligados à paixão e dedicação que Juliana e sua equipe têm por todos os seus clientes. É um orgulho para nossa comunidade em Ontário ter hoje um mercado de produtos brasileiros. Parabéns, Juliana e equipe, pelo esforço e dedicação. Desejo-lhe todo sucesso do mundo.
Arnon Melo, Presidente da MELLOHAWK Logistics
“Conheço Juliana há 20 anos, desde que cheguei no Canadá. Eu a vi grávida, passar por uma separação, retornar ao Canadá para recomeçar do zero… Eu a considero uma batalhadora, uma profissional super séria, uma amiga querida e uma mega mãe.”
Deise Maciel, sócia-proprietária da Mandala Travel
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