Viver no presente, aqui e agora
Como a prática de Mindfulness é capaz de aumentar seu nível de Felicidade
Damos continuidade à coluna ‘RESPIRA’, da jornalista Andressa Missio, que já passou por todos os grandes telejornais da Globo, Band e Record. Andressa descobriu um novo universo chamado ‘Ciência da Felicidade’ durante a sua pós-graduação em Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness na PUC/PR. Não é autoajuda, é ciência. Conhecimento que decidiu compartilhar com você, leitor. Não esqueça de deixar os seus comentários no final do texto.
Por Andressa Missio | 6 de abril de 2023 | Fotos: Pinterest
Suas mãos estão lavando a louça, mas sua mente está no cômodo ao lado, na roupa que falta passar. Seu corpo está no banho, mas sua cabeça está no problema do escritório. Você está numa viagem em família, mas os pensamentos insistem em focar no quanto custará a fatura do cartão de crédito. Alguma situação lhe soa familiar?
Diferentemente dos outros seres vivos, nós, humanos, temos a capacidade de levar os pensamentos para locais diferentes de onde estamos fisicamente. Ligamos o piloto automático nas atividades operacionais, e tocamos o barco no universo paralelo da mente. Uma habilidade que nos permite conduzir um veículo enquanto conversamos com a pessoa ao lado, e mais: que nos leva ao “superpoder” de viajar no tempo: só assim conseguimos planejar o futuro e refletir sobre o passado.
Mas sempre quisemos ir além. Convencionou-se que a perambulação mental significa ser mais produtivo, e o profissional multitarefas passou a ser mais valorizado. Só esquecemos de calcular o custo mental dessa suposta evolução.
“Uma mente que divaga é uma mente infeliz”
Pesquisas mostram que nossa mente passa quase metade do tempo divagando. De acordo com os psicólogos e pesquisadores da Universidade de Harvard, Matthew A. Killingsworth e Daniel T. Gilbert, autores do artigo “A wandering mind is an unhappy mind”, durante 46,9% do tempo de nossas vidas, não estamos presentes no momento presente. Ou seja, passamos boa parte da vida contemplando eventos que aconteceram no passado, que irão acontecer no futuro, ou que nunca irão acontecer – já que o futuro é incerto.
A pesquisa investigou 2.250 pessoas, através de um aplicativo instalado em seus iPhones. Os voluntários foram questionados sobre “o quando estão felizes, o que estão fazendo no momento e se estão pensando sobre a atividade presente ou sobre qualquer outra coisa”. Também precisaram responder se eram pensamentos bons, neutros ou ruins. As perguntas apareciam na tela dos smartphones em intervalos irregulares. O resultado foi publicado na revista Science.
Além de constatar que nossas mentes divagam por quase metade do tempo, os psicólogos também descobriram que as pessoas são menos felizes quando suas mentes estão divagando do que quando não estão. Isso ocorre mesmo quando as atividades do presente são prazerosas.
Aqui e agora
Talvez seja a hora de escutar o que a filosofia, as religiões, ou aquela professora de yoga alertam há tanto tempo: “feliz é quem vive o aqui e o agora”. Até porque viver remoendo o passado pode ser sintoma de depressão, bem como tentar adiantar o futuro tende a gerar crises de ansiedade.
Uma das técnicas mais comprovadas pela ciência para aperfeiçoar a vivência no presente é o Mindfulness. A palavra não tem tradução literal para o português, mas pode ser entendida como a consciência que surge a partir da atenção plena, sem julgamentos, exercitando a autocompaixão.
Há quem confunda Mindfulness com Meditação. Em alguns pontos, ambos realmente se assemelham. No entanto, praticar Mindfulness não necessariamente requer sentar em posição de yoga, com as pernas cruzadas, fechar os olhos e observar os pensamentos.
Mindfulness, como praticar?
No livro Neurociência e Mindfulness: Meditação, Equilíbrio Emocional e Redução do Estresse, o autor Ramon Cosenza lista algumas sugestões de como incorporar o Mindfulness no cotidiano. Ao acordar, por exemplo, antes mesmo de sair da cama, sinta o seu corpo. Tome consciência e faça alguns ciclos de respiração. Coloque intenção no dia que está começando.
Ao longo do dia, procure perceber os sons ao seu redor. Entre em sintonia com o som do vento, dos pássaros, do trânsito, dos burburinhos vindos de pessoas conversando ao fundo. Ouça. Escute.
Outra sugestão é fazer pequenas pausas, prestando atenção exclusivamente na sua respiração. Sinta o ar fresco entrando pelas narinas, e o ar mais aquecido sendo exalado. Se vierem pensamentos durante a prática, não se preocupe – é para isso que nossa mente trabalha. Não julgue, não critique a si mesmo. Apenas deixe que os pensamentos passem. Não os desenvolva.
Gosto de imaginar que estou olhando para o céu e que as nuvens estão passando devagar. Eu apenas observo. É assim com os pensamentos, durante a prática de Mindfulness. Apenas os observo, e deixo-os ir. Volto a prestar atenção na “âncora”, que é minha respiração.
“Não tenho tempo”
Todos vivemos intensamente, temos dias agitados e rotinas exaustivas. Mas as pequenas práticas ao longo do dia não demandam grandes investimentos de tempo – e promovem grandes mudanças, a médio e longo prazo.
Mais concentração, autoconsciência, regulação emocional, redução do estresse são alguns benefícios já comprovados pela ciência, para quem incorpora práticas de Mindfulness à rotina. Sem falar na tal felicidade… que vem como um presente para quem vive o aqui e o agora.
Gostou? Tem perguntas? Deixe aqui os seus comentários. Aguarde o próximo artigo da Andressa Missio.
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