‘O BRASILEIRO’, filme-documentário descortina os 40 anos de carreira do maior expoente da dança de salão do Brasil, Carlinhos de Jesus
Documentário resgata o legado do ator, coreógrafo e bailarino mais famoso do Brasil – Carlinhos de Jesus – ao revelar alegrias e tragédias que marcaram a vida do multiartista carioca.
Por Jandy Sales | 17 de janeiro de 2023 | Fotos: Sérgio Greif, Carlinhos de Jesus e Lúcia Barata
A diretora e produtora, Lúcia Barata, encarou com o filme ‘O Brasileiro’ o desafio de contar a história de Carlinhos de Jesus, um dançarino nascido no subúrbio carioca que se tornou o nosso maior expoente da dança de salão. Ele foi o único artista dedicado a dança popular ao pisar o palco de um dos maiores festivais de música do mundo, o Rock in Rio.
O filme ‘O Brasileiro’ lança o tapete vermelho para o multiartista e um punhado de estrelas da cultura brasileira que fizeram parte da vida profissional dele. Nomes do quilate de Marília Pera e Edson Celulari se somam aos das cantoras Alcione e Elba Ramalho. Com o longa-metragem, seguimos os passos de Carlinhos de Jesus em sua jornada de vida que já soma quatro décadas dedicadas à dança.
Carlinhos de Jesus embarcou na turnê da cantora Elba Ramalho, em 1989, com quem dançou e arrancou aplausos da plateia, alavancando a carreira do dançarino.
No filme, o dançarino flerta com o cinema, o teatro e une o popular ao erudito ao dar as mãos a outro ícone da dança nacional, a bailarina Ana Botafogo. “Ver a sua história contada é como se você voltasse no tempo e fizesse um balanço de sua vida”, disse ele emocionado em entrevista por telefone.
Alegria silenciada pela dor
Mas quem é acostumado com a alegria contagiante de Carlinhos de Jesus, é pego de surpresa nos primeiros minutos do documentário – que tem pouco mais de uma hora de duração. Imagens aéreas mostram o cemitério São João Batista, no Rio, onde está Carlinhos ao lado da esposa Raquel Vieira, em visita ao túmulo do filho do primeiro casamento dele, o cantor Carlos Eduardo Mendes de Jesus (Dudu), executado a tiros em 2011.
O silenciar da alegria contagiante de Carlinhos de Jesus nos primeiros minutos do filme foi uma escolha certeira da diretora e produtora, Lúcia Barata. O tom nebuloso inicial do filme pode ser entendido como uma maneira que ela escolheu para nos apresentar o brasileiro que ela mesma o define de fênix. “Carlinhos morre e renasce”, disse ela em entrevista por telefone.
Além do filho Dudu, o ator, bailarino e coreógrafo Carlinhos de Jesus enfrentou ainda outras duas dolorosas perdas: o suicídio da mãe, Dona Neusa, e, alguns anos mais tarde, a morte do sobrinho Dayvdson, de apenas 17 anos, cuja morte teve a mesma causa.
Carlinhos de Jesus ao lado de Dudu, filho do seu primeiro casamento, da esposa, Raquel Vieira e da filha do casal, Tainah.
Segundo Carlinhos de Jesus, a força para se recuperar emocionalmente de toda a dor mostrada em ‘O Brasileiro’ veio do apoio recebido da família, da esposa Raquel Vieira, casados há 40 anos, da filha caçula Tainah, 37 anos, e dos amigos. “Também foi a minha espiritualidade. Eu sou muito religioso”, afirmou.
Momentos tristes na vida do artista pontuam o documentário. Mas as lágrimas do multiartista Carlinhos dão também lugar a alegria quando a cineasta Lúcia Barata coloca o espectador no ritmo do gingado alegre dos passos do dançarino do subúrbio carioca de Cavalcanti. “Olha a igreja ali”, Carlinhos viaja no passado de helicóptero pelo bairro que marcou sua infância e juventude e a gente embarca junto em uma jornada cinematográfica pela vida do artista sob o embalo da música, da dança e de depoimentos apaixonados.
Lúcia Barata retira do baú de histórias do bailarino um punhado de personalidades da cena cultural brasileira. Gente que dividiu o mesmo palco com o dançarino ou de uma maneira ou de outra passou a fazer parte do legado dele. Entre os entrevistados, o depoimento do ator e diretor de televisão, Maurício Sherman, é um cutucar na rivalidade entre dois países apaixonados pelo futebol. “Nem Messi, nem Maradona, Carlinhos é o Pelé do Samba.”
Na ciranda de acontecimentos alegres e tristes, o que podemos também testemunhar no filme é o baile que Carlinhos dá no preconceito. O chega pra lá na cultura latina do “macho man” é dado pelo bailarino, cujo talento expresso pelos majestosos movimentos dos pés começou a brotar quando ele era ainda um garoto. A admiração do pai, Seu Amarante, um baiano de Santo Amaro da Purificação, se dava passo a passo.
“Quando eu disse ao meu pai, com 10 anos, que queria dançar e que ele me colocasse em uma academia, ele me botou em uma academia de jiu-jitsu”, disse Carlinhos entregue aos risos. “Ele era mulherengo e queria que eu fosse também. Ele via na dança uma coisa que não era para homens e não ser de futuro.”
Boemia com charme e talento
Segundo Carlinhos, o pai dele tinha uma vida social muito intensa no bairro onde moravam, pois era sempre convidado para velórios e casamentos. Ele conta que as festas eram regadas à música, dança e muitas garotas. “Eu tirava uma a uma para dançar. E a popularidade foi crescendo. Em toda as festas, alguém dizia: ‘Ô Amarante! É aniversário da minha filha. Leva o teu filho, Carlinhos’. Eu era cobiçadíssimo nas festas.”
O pai de Carlinhos de Jesus, Seu Amarante, (primeiro à esquerda à frente dos demais) brincando o carnaval de rua no bairro Cavalcanti, subúrbio do Rio de Janeiro.
A popularidade do filho de seu Amarante crescia, mas a família não encarava a dança como algo a ser levado a sério. O pai, a mãe e as tias queriam que o melindroso Carlinhos fosse médico. E a preocupação da família com o futuro do garoto não era para menos, pois o próprio Carlinhos chega a considerar a dança como sendo um ‘primo pobre das artes’. Segundo ele, “a dança de salão é um tipo de primo bastardo do primo pobre.”
E o nosso Pelé do Samba até chegou a prestar o vestibular para Direito, mas acabou se formando em Pedagogia. Carlinhos se tornou professor, abandonando mais tarde a sala de aula para abraçar de vez a carreira que o tornou famoso no país inteiro.
Carlinhos afirmou que largou a estabilidade do emprego público ao ser seduzido pela paixão de dançar. “São 40 anos vivendo exclusivamente da dança. Hoje eu sou aposentado. Eu queria essa respeitabilidade, viver tão dignamente da dança como poderia ser de qualquer outra profissão”, disse ele ao afirmar orgulhoso que a profissão de dançarino é reconhecida hoje pelo Ministério do Trabalho como sendo uma atividade profissional.
Carlinhos de Jesus e a apoteose do samba
É com muito rebolado e jogo de cintura que Carlinhos tem espalhado a alegria de sua arte fora dos palcos e dos salões. O filme ‘O Brasileiro’ não poderia deixar de lado a emoção do artista na Sapucaí. É quando testemunhamos o brasileiro Carlinhos de Jesus movido pela fé. A lente da câmera revela o multiartista de mãos dadas em oração momentos antes de um dos muitos desfiles nos quais participou.
Na Sapucaí, o moleque de seu Amarante que venceu na vida apaixonando plateias com o gingado mágico dos pés, tem conquistado o reconhecimento do seu trabalho dedicado ao samba. Em 2019, por exemplo, ele conquistou o Estandarte de Ouro de Melhor Coreografia de Comissão de Frente pela escola de samba da Portela. E com o fim das restrições à pandemia, Carlinhos quer colocar de volta nas ruas do Rio o bloco de carnaval fundado por ele, o Dois Pra lá, Dois Pra Cá.
Carlinhos de Jesus (o segundo da direita para a esquerda) ao lado do ator Edson Celulari, em cena do filme Ópera do Malandro, dirigido por Ruy Guerra.
O bom malandro Carlinhos de Jesus revelou ainda ser fã dos atores e dançarinos americanos, Fred Astaire e Genne kelly. Ele também já chegou a colocar à prova o seu talento sob os holofotes do cinema. No filme Ópera do Malandro (1985), do diretor Ruy Guerra, ele dá os sacolejos em frente às cameras ao dividir o set de filmagem com o ator Edson Celulari. O artista tem ainda no currículo os filmes: Xuxa Requebra; Lambada – O Filme (1990), Navalha na Carne (1997) e Orquídea Selvagem (1989) – para o qual Carlinhos foi escalado para ensinar a atriz inglesa Jacqueline Bisset como dançar lambada.
“Eu fiquei 15 dias fazendo o filme Orquídea Selvagem em Salvador. A mulher (Bisset) falava comigo e eu nem acreditava. Quem era o meu crush quando eu era moleque? Era a Jacqueline Bisset. Eu era para ser diretor de coreografia, mas acabei sendo um folião brasileiro em uma história que se passa no Rio de Janeiro e Salvador”, disse o bailarino.
O lado social da dança
Outro destaque na carreira do ator, coreógrafo e dançarino Carlinhos de Jesus é o trabalho de caráter social para o qual o artista tem se dedicado ao longo dos anos. “Fui o primeiro profissional de dança de salão a se dedicar à questão da pessoa com deficiência. Já trabalhei com portadoras da Síndrome de Down, com surdos e cadeirantes”, disse ele ao afirmar também que tem como sonho colocar a dança no currículo escolar.
Carlinhos de Jesus começou a perceber o poder que a dança tem de mudar a vida das pessoas através do trabalho pioneiro que ele desenvolveu para uma instituição de acautelamento de menores infratores. De acordo com ele, a instituição, na época, atendia adolescentes com idades entre 13 e 18 anos. “Foi aí que eu mudei de Direito para Pedagogia. Eu precisava de uma terapia, algo que me tirasse do estresse que eu estava vivendo, que foi dançar. Me fez pensar sobre o efeito da dança no corpo humano”, disse ele ao afirmar já ter ensinado também as técnicas da dança de salão no Instituto dos Cegos do Rio de Janeiro.
No filme ‘O Brasileiro’, Carlinhos de Jesus mostra ainda que a magia e o poder da dança superam as limitações físicas. Em Natal (RN), por exemplo, o bailarino se apresentou lado a lado dos integrantes de uma companhia de dança formada por dançarinos em cadeiras de rodas.
Carlinhos de Jesus ao lado de cadeirantes de companhia de dança de Niterói. “A única coisa que te impede de dançar, como qualquer outra coisa na vida, é você colocar na sua cabeça que não quer fazer.”
“Eu ia entrar com a minha parceira dançando no meio deles. Aí eu cheguei para o coreógrafo e disse: ‘mas que tal eu terminar dançando com uma cadeirante e minha parceira com um cadeirante?’ Eu queria juntar as minhas pernas com as rodas deles. E um deles disse: ‘Nós somos cadeirantes, as minhas pernas são as rodas. Da mesma forma que você faz com as suas pernas’, narrou Carlinhos. “A única coisa que te impede de dançar, como qualquer outra coisa na vida, é você colocar na sua cabeça que não quer fazer”, completou.
A licença poética do Rei
A lista de causos do baú de histórias do dançarino Carlinhos de Jesus é extensa e, claro, cheia de emoções. É difícil imaginar que todas elas caberiam em um único filme. Nos bailes da vida do artista, há uma performance com toda pompa e sofisticação que ocorreu longe dos salões de festas tradicionais pelos quais o artista já pisou. Desta vez, o dançarino levou o gingado e rebolado para o alto mar a convite da nossa maior celebridade da música, o rei Roberto Carlos.
Carlinhos de Jesus chegou a trabalhar para o cantor e compositor Roberto Carlos por quase duas décadas – antes da pandemia, no projeto Emoções em Alto Mar. No luxuoso cruzeiro, a tarefa dele era a de ensinar aos “súditos do rei” macetes da dança na piscina do navio.
“Quando acabou a minha aula, veio a produção me dizer que o Roberto havia mandado me convidar para a coletiva de imprensa”, confessou o dançarino que revelou também outra surpresa maior ainda e que aconteceu no auditório do navio onde estava lá um punhado de caçadores de notícias e fofocas quando o assunto é celebridades em pauta.
“Um jornalista lançou a pergunta com tom de comentário para Roberto Carlos: ‘Hoje de manhã na piscina, o Carlinhos de Jesus executou a música Quero Que Vá Tudo Pro Inferno. Há 11 anos que você proibiu a veiculação dessa música. O que você tem a dizer?’ E o rei respondeu olhando para mim: “Carlinhos de Jesus tem licença poética. Carlinhos de Jesus é o maior artista brasileiro”. Depois fui tirar foto e pedir desculpas no camarim e Roberto Carlos falou: “Aí, Carlinhos, relaxa!” revelou o dançarino.
Carlinhos de Jesus comemora 70 anos de vida com fôlego de tirar o chapéu. Ele quer agora focar a carreira em palestras e na tarefa de ensinar as técnicas da dança de salão. Foto: Sérgio Greif
Carlinhos de Jesus completa no dia 27 de janeiro 70 anos de idade sem perder o ritmo dos passos e o sorriso largo no rosto, dois atributos que lhe consagraram e que são a sua marca registrada. “Quero fazer uma festa bastante diferente. Será a minha despedida dos grandes palcos, mas vou continuar dando as minhas palestras”.
Com os pés no futuro
Carlinhos de Jesus quer manter a dança como carro-chefe de seus trabalhos e se dedicar a consultorias e palestras motivacionais para brasileiros e estrangeiros. “Eu ainda ocupo cadeira cativa como jurado de programa de tevê focado na dança”, disse ele que também se dedica a dar aulas de empreendedorismo artístico para cantores, bailarinos e artistas em geral ao ensinar técnicas para o aprimoramento da performance no palco.
Mas o que o filme-documentário ‘O Brasileiro’ provocou no multiartista Carlinhos de Jesus? “Eu passei a valorizar mais as coisas que eu tinha feito. É como se alguém tivesse contado a minha história e eu estivesse vendo pela primeira vez. Aí, você faz um balanço geral de tudo que você ganhou, de tudo que você perdeu. O filme me trouxe lembranças de coisas que eu imaginava não ter feito. É um motivo até de orgulho”, disse o ator, coreógrafo, bailarino e professor que, desde primeiro de dezembro de 2021, ocupa a cadeira de número 47 da Academia Brasileira de Cultura.
Dança sem par
A difícil batalha da produtora e diretora de ‘O Brasileiro’, Lúcia Barata, para colocar no circuito de exibição nacional o filme sobre a história do maior ícone da dança de salão do Brasil.
A produtora e diretora do filme ‘O Brasileiro’, Lúcia Barata, ao lado do ator, bailarino e coreógrafo, Carlinhos de Jesus. Foto: Sergio Greif
A ideia de fazer um filme sobre a vida e carreira do ator, coreógrafo e dançarino Carlinhos de Jesus veio da cineasta e artista plástica, Lúcia Barata, durante uma visita que ela fez à academia de dança do multiartista carioca. Ela morava em Nova York, onde estudou cinema, e estava começando a fazer filmes profissionalmente.
Mas o motivo o qual levou a cineasta a bater à porta da Academia de Dança Carlinhos de Jesus, no Rio de Janeiro, foi mais do que especial. Barata foi atrás de contratar os bailarinos de lá para se apresentarem na festa de aniversário de 80 anos da mãe dela, Dona Estrela.
Lúcia Barata é apaixonada pela dança e se declara uma grande fã de Carlinhos de Jesus, cuja amizade com o artista começou antes mesmo da realização do filme ‘O Brasileiro’.
A visita de Barata à academia acompanhada da mãe foi um reencontro com o artista que, segundo ela, ainda estava muito abalado com a morte do filho Carlos Eduardo Mendes de Jesus (Dudu), executado a tiros no Rio de Janeiro em novembro de 2011. “Quando eu cheguei lá, o Carlinhos estava arrasado. O filho havia sido morto uns seis meses antes. Ele chorou comigo e se abriu”, disse ela.
Durante a visita da cineasta, Carlinhos compartilhou a dor pela morte do filho e não recebeu apenas o apoio emocional dela, mas a ocasião foi o momento pelo qual germinou a ideia de realizar o filme-documentário ‘O Brasileiro’. “Ele desabafou e contou grande parte da vida dele. Então, eu perguntei: Carlinhos, alguém já lhe propôs a fazer um filme?”, revelou ela em entrevista por telefone.
“Fiquei apaixonada pela história dele e o que era para ser um curta acabou virando um longa”, afirmou a diretora e produtora do filme O Brasileiro, Lúcia Barata. Foto: Sergio Greif
Carlinhos de Jesus topou contar a saga dele no mundo da dança e revelou histórias dentro e fora dos salões e também longe dos palcos. O filme levou quatro anos para ficar pronto e a fascinante história de vida do dançarino fez Lúcia Barata mudar de planos. “Fiquei apaixonada pela história dele e o que era para ser um curta acabou virando um longa”, disse ela.
Cortando custos de produção
Para que o projeto do filme saísse do papel, Lúcia Barata teve a ajuda de profissionais de Nova York para fazer o filme no Brasil. Eles já trabalhavam com ela nos Estados Unidos. Para reduzir os custos de produção do longa, ela abriu as portas de sua residência no Rio para acomodar todos da equipe. “O apartamento é amplo como se fosse um mega estúdio. Eles traziam o equipamento de lá e assim não ficou tão caro filmar cada vez que a gente vinha. Nós seguíamos a agenda de Carlinhos. Ele e a esposa, Raquel, abriram as portas para os contatos com os entrevistados”, afirmou.
A convivência com o bailarino Carlinhos de Jesus fez crescer ainda mais a admiração da cineasta Lúcia Barata para com o artista. “A capacidade dele de enfrentar a tragédia através da dança é arrepiante. O processo dele de luta é um processo criativo. Ele não tem marca de tempo. Ele é um malandro bom, aquela coisa de transformação do bem e do mal juntos”, disse.
Segundo Barata, ‘O Brasileiro’ é uma produção independente, com todos os custos de realização oriundos do próprio bolso. Ela teve o mérito de conseguir os direitos autorais de 32 músicas. “O pessoal de Tom Jobim não cobrou nada. Ruy Guerra, diretor de Ópera do Malandro, nos doou três minutos do filme.”
O filme “O Brasileiro” conquistou, em Toronto, o Top Prize ‘Make A Difference Award’ (MADA) no Community Film and Arts Festival – (COMMFFEST). Foto: Leila Monteiro Lins
‘O Brasileiro’ teve a sua premiere no Madrid International Film Festival (MIFF), em julho de 2018, e tem conquistado prêmios em festivais pelo mundo afora. No Community Film and Arts Festival (COMMFFEST), em Toronto, o longa arrebatou o Top Prize Make A Difference Award (MADA). Enquanto no festival indiano, Rajasthan International Film Festival (RIFF), em 2019, a produção foi vencedora na categoria Best International Documentary.
Festivais brasileiros de cinema: “Falta de comunicação e educação”
A boa acolhida do filme ‘O Brasileiro’ em festivais internacionais preenche a lacuna da falta de aceitação e reconhecimento do documentário pelos organizadores de festivais de cinema no Brasil. A diretora e produtora Lúcia Barata não esconde o descontentamento com o desprezo ao longa-metragem que fala do nosso maior expoente da dança de salão. “Eles não dão um feedback, nem dizem: ‘a gente viu, mas acho que esse não é o momento’, como acontece lá fora. É uma falta de comunicação e educação. Eu acho que é porque ele é muito brasileiro. A gente é muito colonizado, a gente gosta do que é importado”, desabafou.
Carreira reconhecida internacionalmente
Barata estudou cinema nos Estados Unidos e tem outras produções cinematográficas premiadas no currículo. O curta Party’s Over – drama que conta a história de um casal de meia-idade na fase pós-hippie do Woodstock, foi premiado no Global Extraction Film Festival (GEFF).
Já os curtas-documentários, Yellow River e Dancing Wheels, conquistaram, cada, 23 prêmios em festivais espalhados pelo mundo. O primeiro foi gravado na Amazônia e conta o desafio de um pai ao criar sozinho uma filha adolescente. Enquanto o segundo é sobre a Companhia de Dança Corpo em Movimento. O filme mostra uma trupe de dançarinos de Niterói que mostra talento em cadeiras de rodas e que chegou a representar o Brasil em paraolimpíadas.
A cineasta e artista plástica, Lúcia Barata, já foi premiada em vários festivais internacionais. O seu último filme, o curta-metragem, Dancing Wheels, faturou 23 prêmios, sendo uma das premiações ocorridas na Indonésia onde Barata também conquistou o prêmio Overall Winner (foto).
As atividades artísticas de Lúcia Barata envolvem ainda pintura, arquitetura, criação gráfica de discos, ilustração de livros infantis e a confecção de joias. Muitos dos seus trabalhos chegaram a participar de exposições em galerias pelo mundo a convite da ONU, Unicef e embaixadas. “O meu caminho sempre foi muito natural, nunca tive um agente, um galerista”, afirmou.
“Em janeiro Carlinhos faz 70 anos e a gente vai botar esse filme na rua. Antes de ir para o streaming, eu quero que as pessoas vejam, nem que seja exibido de graça na praia, caso não seja absurdamente caro e se a gente conseguir patrocínio”, disse a cineasta ao afirmar ainda que está nos planos dela fazer com que o filme ‘O Brasileiro’ além de ser exibido no streaming service também chegue às salas de cinema do grupo Severiano Ribeiro.
Lúcia Barata espera que a coragem de Carlinhos de Jesus seja a maior mensagem que o filme ‘O Brasileiro’ possa transmitir para o público. “Eu admiro muito as pessoas autênticas, o que elas mostram para os outros, não um personagem, mas o que elas realmente são. Você não transforma por intenção, você transforma por reflexo. Eu acho que o Carlinhos é isso, ele consegue transformar as pessoas”.
(Vídeo) – Entrevista com a diretora do filme-documentário ‘O BRASILEIRO’, Lúcia Barata: (Toronto – 13/10/2018) – Reportagem: Leila Monteiro Lins.
*Clique aqui e assine nossa Newsletter.
A edição de inverno da revista DISCOVER está disponível em nosso site:
https://www.magazinediscover.com/discover-digital/