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Turismo Sustentável Ganha Força Diante do Cenário Positivo da Pandemia

Após confinamentos, surge o turista mais preocupado com a questão ambiental

(Foto) – Bonito (MS) é uma opção para quem busca conhecer belezas naturais brasileiras que seguem a cartilha da preservação ambiental.

Por Rosana Lancsarics | 15 de junho de 2022

O turismo foi um dos setores mais afetados pela pandemia e é o que mais deve se recuperar rapidamente.  Durante a fase aguda da pandemia, a retração do movimento global de turistas variou de 58% a 78%, de acordo com a Kearney’s Global Business Policy Council. É fácil imaginar o impacto numa área que empregava mais de 330 milhões de pessoas em 2019, gerando um em cada 10 empregos em todo o mundo. Em 2021, o número estava se recuperando de uma queda, mas ainda em 289 milhões de empregos.

Agora, a fase ruim parece ser coisa do passado e o otimismo está de volta.  Muitas lições foram aprendidas nestes dois anos, como revela a entrevista abaixo à Discover Magazine da executiva Jeanine Pires, ex-presidente da EMBRATUR e cofundadora e vice-presidente de Produtos e Alianças na startup Ōner Travel.

“As grandes transformações do turismo mundial foram aceleradas a partir de 2020 com o surgimento da pandemia do novo coronavírus, aumentando ainda mais as grandes mudanças que já vinham ocorrendo no comportamento dos consumidores e em seus hábitos de viagens”, disse Jeanine.

Entre elas, o uso intenso de tecnologia pelo setor e a busca crescente de experiências autênticas com os locais visitados, respeitando a cultura, o meio ambiente e a economia, no chamado turismo sustentável.  “Só existe atividade econômica do turismo em lugares onde o patrimônio natural e cultural são preservados. No Brasil, temos um enorme potencial para essa prática. Transformar esse potencial em atividade econômica que gera renda, empregos e que impacta a imagem do país fortemente, demanda estratégia, planos e políticas públicas sistemáticas e contínuas”, diz Jeanine. Um dos melhores exemplos de turismo sustentável no Brasil é Bonito, no Mato Grosso do Sul.   Elogios também ao Canadá e Portugal. Vale a leitura.

(Foto) – Costa Rica, segundo Jeanine Pires, é um dos países que se destacam com uma agenda focada no turismo sustentável.

MUNDO DIGITAL: NOVOS HÁBITOS DE VIAGEM 

(Foto) – Jeanine Pires, ex-presidente da EMBRATUR e cofundadora e vice-presidente de Produtos e Alianças na startup Ōner Travel.

Discover Magazine – Quais são as principais mudanças que ocorreram ou estão acontecendo no turismo neste período de pandemia

Jeanine Pires – As grandes transformações do turismo mundial foram aceleradas a partir de 2020 com o surgimento da pandemia do novo coronavírus, aumentando ainda mais as grandes mudanças que já vinham ocorrendo no comportamento dos consumidores e em seus hábitos de viagens. Uma discussão que foi bastante acelerada pelo contexto de pandemia é a digitalização no turismo. Algumas experiências recentes no mercado brasileiro mostram muitas dificuldades e desafios para que os caminhos da digitalização e uso de tecnologias nas pequenas e médias empresas e nos destinos turísticos do Brasil tenham competitividade.

Pessoas ao redor do mundo ficaram mais tempo navegando nas redes sociais, aprendendo sobre novas tecnologias de comunicação online, e o comércio eletrônico vivenciou uma grande expansão para atender às necessidades das pessoas que se encontravam isoladas. Esse comportamento segue como uma tendência e uma realidade no consumo de viagens e turismo. Seja no marketing digital ou na análise de dados, ficou cada vez mais evidente a necessidade de utilizar a tecnologia para potencializar o trabalho de promoção dos destinos.

Além disso, neste cenário pós-pandemia as pesquisas de tendências apontam uma fuga do turismo de massa e uma maior procura por experiências autênticas, únicas, como atividades de natureza, atividades ao ar livre e com responsabilidade ambiental e social cada vez mais fortes enquanto critérios de avaliação dos viajantes.

É perceptível, também, a permanência do turismo doméstico enquanto prioridade. Esse segue sendo o grande ativo na reconstrução do turismo mundial. No cenário internacional, ainda estamos com um retorno lento dos voos.

DM – Qual é a posição do Brasil neste novo contexto?

JP – Mesmo com um volume maior, os tradicionais países emissores de turistas ao Brasil, ou mesmo de destino dos brasileiros, seguem com ritmo lento dos voos. Analisei, no último mês de abril, os dados que ForwardKeys disponibilizou e foi possível constatar que somente Portugal já retornou ao patamar de chegadas pré-crise de 2019. Com um share de 4,5% das chegadas futuras ao Brasil entre 18 de abril e 29 de maio.  Portugal tem 15,6% de chegadas ao Brasil em relação ao mesmo período de 2019. A Argentina, que já concentrou a grande maioria das chegadas de estrangeiros ao Brasil, está hoje com 21,7% das chegadas futuras entre 18 de abril e 29 de maio desse ano em relação aos níveis pré-crise.

Alguns fatores que podem influenciar esse cenário são a tardia abertura das fronteiras durante a pandemia e a atual baixa oferta de voos entre os países. Os custos de operação das empresas aéreas, a entrega de aeronaves e a situação econômica de muitos países devem também impactar no cenário lento de recuperação. Paralelo a isso, trabalhar um posicionamento de imagem do Brasil e a divulgação dos atrativos de forma estratégica no exterior são investimentos essenciais para que as pessoas procurem nossos destinos.

(Foto) – O turismo sustentável em Portugal ganha novo fôlego após sobreviver aos percalços da pandemia. Foto: Bruno Alves

DM – Qual é o espaço para o turismo sustentável neste novo cenário?

JP – O cenário de viagens em massa vai sendo substituído por experiências personalizadas, e por um cuidado especial com as comunidades locais, o respeito à cultura, a autenticidade e ao meio ambiente. Como mencionado anteriormente, as pesquisas de tendências apontam uma maior procura por experiências autênticas, com responsabilidade ambiental e social cada vez mais fortes enquanto critérios de avaliação dos viajantes. Não vale mais usar os ativos naturais sem preservá-los. Existe, por parte dos consumidores, o interesse de consumir também no turismo práticas sustentáveis para garantir que permaneçam existindo no futuro.  A experiência do visitante está cada vez mais ligada a uma relação legítima e sustentável com o destino visitado.

DM – Qual é a sua visão sobre o turismo sustentável no Brasil e quais seriam os principais exemplos de locais que seguem ou poderiam seguir esse conceito?

JP – Só existe atividade econômica do turismo em lugares onde o patrimônio natural e cultural são preservados. No Brasil, temos um enorme potencial para essa prática, e transformar esse potencial em atividade econômica que gera renda, empregos e impacta a imagem do país fortemente demanda estratégia, planos e políticas públicas sistemáticas e contínuas.

É necessário mobilizar todos os atores envolvidos sobre os objetivos do turismo sustentável; desenvolver estruturas nacionais em conexão com as regionais e locais para divulgar, apoiar e incentivar boas práticas comerciais e trabalhar estratégias de comunicação e marketing para incentivar o consumidor final a fazer escolhas sustentáveis. No Brasil, temos alguns exemplos de destinos que já desenvolvem um trabalho nesse sentido, como Bonito, em Mato Grosso do Sul.

(Foto) – Em Bonito (MS), boas estratégias de marketing digital têm atraído turistas que buscam lazer em ambientes ecologicamente corretos.

DM – Tendo a revista Discover também leitores no Canadá e Portugal, gostaríamos de estender a nossa pergunta sobre a sua visão da atuação no turismo daqueles dois países.

JP – Tanto Portugal quanto Canadá possuem produtos turísticos e destinos muito bem estruturados, com toda preocupação econômica, social e ambiental. Isso torna o destino atrativo e colabora diretamente para a manutenção dos atrativos naturais para atrair os visitantes.

 

(Foto) – Canadá: turismo com preocupação social, econômica e ambiental. Foto: Michael Olsen

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DM – Qual é o país que tem sido exemplo no turismo sustentável?

JP – A Costa Rica é um bom exemplo. É um destino com uma enorme diversidade de parques naturais, reservas e que, para além dos recursos da natureza, busca atuar de forma conjunta com os segmentos econômicos na preservação e manutenção do turismo sustentável.

 

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Rosana Lancsarics

Rosana is a journalist and public relations professional. In Brazil, she has worked for companies such as the Folha de São Paulo newspaper, Exame magazine, Fiat Automoveis and Embraer. In Canada, her experience includes the DataText event services company and the Toronto Pan Am / Parapan Games teams and the Toronto Blue Jays baseball team.

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