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Bicentenário da Independência do Brasil: Afinidades Culturais Lusitanas 

CONVITE DO CONSULADO-GERAL DO BRASIL EM TORONTO

No âmbito das comemorações do bicentenário da independência, o Consulado-Geral do Brasil em Toronto tem o prazer de convidá-lo(a) para  cerimônia oficial de hasteamento da bandeira brasileira e execução do hino nacional  na Prefeitura de Toronto, no dia 07/09, ao meio dia (City Hall of Toronto, 100 Queen St Mezzanino externo).

O Grito do Ipiranga ainda Soa como Eco na Vida Brasileira

Por Caio Quinderé | 15 de junho de 2022 | Atualizado: 7 de setembro de 2022

O que há de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal? Após 200 anos do grito de independência, a história dessas duas nações ainda se entrecruza como fios numa engenhosa arte de tear. Uma relação de intercâmbios culturais que pontuam o atual momento.  A Discover Magazine entrevistou a historiadora, pesquisadora e especialista em Gestão do Patrimônio Cultural pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (IEC/PUCMG), Clotildes Avellar Teixeira, para falar sobre o intercâmbio de influências culturais entre o Brasil e Portugal. Nascida em Minas Gerais, ela reside atualmente na cidade portuguesa do Porto. Teixeira faz uma análise das características históricas vivenciadas pelos ambos países com foco nas tradições culturais, a exemplo do carnaval. Trazemos, assim, uma reflexão no que há de semelhante entre portugueses e brasileiros para os nossos leitores.

“Parabéns, ó brasileiros, já com garbo juvenil. Do Universo entre as nações, resplandece a do Brasil.” Com esse verso de Evaristo da Veiga, ressoa o grito do príncipe regente Pedro de Orleans e Bragança, às margens do rio Ipiranga, tornando-o o primeiro chefe de Estado na terra brasilis. Assim passaram-se os anos, e 200 já se marca esse momento histórico em que o Brasil corrompe com o domínio português. Assim passam-se os anos, o forte e o corajoso ato de D. Pedro fez nascer sob o Cruzeiro do Sul uma nação-continente diversa e multicultural. Uma nação composta de etnias indígenas, que aqui já viviam antes da vinda dos colonizadores portugueses, e a chegada de escravos negros para o trabalho nas lavouras. Aqui, esses três povos multicores e linguísticos teceram, numa engenhosa arte de tear, os fios que se entrelaçam para a composição do tecido social brasileiro.

 Encomendada pela Corte, a pintura Independência ou Morte, de Pedro Américo, foi finalizada pelo pintor na Itália,
66 anos após a proclamação da República. A obra faz parte do acervo do Museu Paulista, também conhecido como Museu do Ipiranga.

A professora e historiadora Clotildes Avellar Teixeira falou à Discover Magazine sobre esse intercâmbio de influências culturais entre o Brasil e Portugal. Nascida em Minas Gerais, ela reside atualmente na cidade portuguesa do Porto.

Clotildes Avellar Teixeira é especialista em Gestão do Patrimônio Cultural pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (IEC/PUCMG). Ela reforçou que o atual momento propicia uma reflexão no que há de semelhante entre portugueses e brasileiros. Teixeira, que também é PhD em Ciência da Informação, vem desenvolvendo o projeto Luso-Brasilidades com a colaboração da Universidade do Porto e mais duas universidades federais brasileiras: a de Goiás e a mineira de Ouro Preto. O objetivo é realizar eventos de análise, reflexão e valorização da memória sobre o intercâmbio cultural entre o Brasil e Portugal neste ano de comemorações dos 200 anos de Independência do Brasil.  A ideia central, segundo ela, é identificar a antiga forma de ocupação e domínio português antes de o Brasil ser proclamado independente e mapear as relações de trocas e assimilações culturais, tanto no Brasil quanto em Portugal, ao longo dos 200 anos de história.

(Foto) – De acordo com a professora Clotildes Teixeira, a festividade carnavalesca que ocorre em Torres Vedras, cidade próxima a Lisboa, pode ser considerada um exemplo do processo de troca e assimilação cultural entre o Brasil e Portugal pelo fato de o evento português ter semelhanças com o axé baiano.

O que é de Portugal no Brasil?

O pedagogo e filósofo português Agostinho da Silva (1906-1994) sempre foi um grande incentivador da aproximação cultural luso-afro-brasileira, tendo trabalhado anos a fio para haver um entendimento nessa coexistência cultural, bem como o cantor e compositor Chico Buarque referência em sua canção Fado Tropical ao dizer que “esta terra cá há de ser um dia imenso Portugal”.

A herança portuguesa para a cultura brasileira vai muito além do idioma. Ela está bastante presente também no calendário das festividades populares brasileiras como as festas juninas. Chamada inicialmente de “joanina” para homenagear São João, as festas dos santos populares reverenciados no mês de junho, transformaram-se no Brasil no que é hoje a Festa Junina. As Festas do Divino, do Boi e a Folia de Reis é outro exemplo dos costumes e tradições portuguesas herdados pelo Brasil.

Além das festas populares, o folclore brasileiro também sofreu influência lusitana, de acordo com a professora Avellar Teixeira. Uma série de criaturas e seres mágicos que povoam o imaginário brasileiro hoje veio do folclore português, tais como o bicho-papão e o lobisomem. Outra presença portuguesa marcante na cultura brasileira são as danças populares existentes no Nordeste do Brasil, como o fandango e a caninha-verde. Essa última foi introduzida em regiões canavieiras brasileiras durante o ciclo da cana-de-açúcar.

(Foto) – Caninha-verde de Mestra Gerta é uma dança de origem portuguesa hoje bastante popular no Ceará. 

Formada no bairro Mucuripe, em Fortaleza, a Caninha-Verde de Mestra Gerta é um dos raros grupos no Brasil que ainda mantêm a tradição dessa dança de origem portuguesa.

(Foto) Gertrudes Ferreira dos Santos, Dona Gerta, 94 anos, falou à Discover Magazine como ela comanda a brincadeira iniciada há mais de 60 anos pelo marido, José dos Santos. Foto: Davi Pinheiro.

No início, Dona Gerta apenas ajudava na confecção dos trajes. Com a morte do marido, ela assumiu a liderança do grupo e o desafio de manter a tradição para os cerca de 40 participantes. São crianças e adultos, entre dançadores, tocadores de violão, cavaquinho, surdo e pandeiro. “A caninha-verde chegou aqui na Primeira Guerra Mundial. Cinco portugueses estavam no mar, com fome, com sede, não tinham água para beber. Encontraram, mandado por Deus, um pescador lançador da tarrafa. O pescador levou os portugueses até a costa e preparou os peixes pra eles comerem. Depois os levou até o canavial e lá eles se transformaram em índio”, disse ela.

Ato confessional sem penitência

A Discover Magazine também fez um ato confessional sem penitência, que é um jogo de perguntas e respostas à queima-roupa, com a professora Clotildes Avellar Teixeira.

Discover Magazine: Qual é a melhor: a culinária brasileira ou a portuguesa?

Clotildes Avellar Teixeira : (risos)  Que pergunta para uma brasileira, especialmente mineira. Mas há muito da culinária do Brasil que é uma herança de Portugal. No Brasil, a gente colocou mais temperos, os nossos temperos. Fizemos do nosso jeito, contudo a culinária brasileira, em cuja matriz a portuguesa, exerceu grande influência, como por exemplo a da Bahia, com o “bacalhau à baía” e a “frigideira de bacalhau.”

DM: E a Literatura?

CAT: Igualmente as duas nações. Há muitos bons escritores e poetas brasileiros e portugueses.

DM: A boa conversa?

CT: Os brasileiros têm uma expansão maior. Somos mais abertos, mais receptivos. Acredito que essa miscigenação em que somos expostos, com vários povos presentes na constituição racial-brasileira, em especial africana, nos fez ter o coração além das mãos. Os brasileiros são mais abertos para a conversa, o bate-papo, a descontração informal. Sim, somos bem mais informais do que os portugueses.

DM: O aconchego e o abraço?

CAT: Fazendo uma metáfora, os brasileiros são como o verão e os portugueses, como o inverno.

DM: Os políticos e a política?

CAT: Até se discute assim como também o futebol. São manifestações do estar social de um povo, mas hoje são muito singulares. (risos) A comunidade brasileira em Portugal é a maior entre outras nacionalidades, e há muitos incentivos por parte do governo Português que beneficiam quem escolhe viver, estudar e trabalhar em solo português.

NOTA: Os interessados em apoiar o projeto Luso-Brasilidades através de patrocínio ou outro qualquer tipo de suporte devem entrar em contato com Clotildes Teixeira pelos emails: historiarte@historiarte.com.br ou cloavellar@historiarte.com.br. 

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Caio Quinderé

Caio é Dramaturgo, escritor e redator. Com mais de 20 anos de experiência em Comunicação, Educação e Artes. Caio já publicou peças de teatro, filmes para cinema e TV e publicou livros. Expertise na gestão de projetos culturais e sociais.

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