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As Páginas de Vida do Caubói que Virou Filme

THE LONG RIDER

Uma história cheia de aventuras pelos rincões dos quatro cantos das Américas

Por Jandy Sales | 15 de junho de 2022 

O Cavaleiro das Américas 

Para um cético de plantão, ouvir a estória de um rapaz que decidiu sair de casa para cruzar as américas a cavalo, poderia talvez ser interpretada como inquietação e rebeldia de um jovem aventureiro qualquer. Um tipo de caubói pretensioso que botou o pé na estrada para colecionar selfies e garotas pelo caminho. Desculpe-me dizer, mas quem pensou assim “caiu do cavalo”, e o tombo foi feio. Em 2012, Filipe Masetti Leite, na época com 25 anos, embarcou em uma saga bem planejada e com o apoio da família e dos amigos. Ele cumpriu não somente uma missão, mas três cruzadas no lombo do cavalo. O nosso caubói destemido chegou a galopar a mesma trilha do seu ídolo e inspirador, o também aventureiro corajoso, Amie Tschifelly, que na década de 1920 cavalgou da Argentina a Nova Iorque. A trajetória de Filipe foi diferente, mas também desafiadora. Ele enfrentou a natureza selvagem com urso pardo pelo caminho e ainda trilhou territórios povoados de bandidos. Algumas das histórias bonitas e emocionantes durante as andanças pela América Latina, por exemplo, foi a oportunidade que Filipe teve de conhecer gente humilde e bondosa ao cavalgar pelos mesmos destinos sem lei dos traficantes. As fascinantes jornadas do caubói Filipe renderam dois livros e um filme-documentário bastante premiado.

Nesta edição super especial da Discover Magazine, convidamos você, leitor, a cavalgar juntos para conhecer a história de vida de Filipe Masetti Leite e saber mais sobre o seu filme, The Long Rider. Filipe traçou o próprio futuro ainda menino ao deixar o interior de São Paulo para morar no Canadá. Antes de se tornar o Cavaleiro das Américas, ele passou pelos bancos da faculdade de Jornalismo e já até brilhou como show man na Yonge-Dundas Square.

(Foto) – O destemido e aventureiro caubói Filipe Masetti Leite e a desafiante jornada a cavalo pelas Américas.

A Saga de um Caubói pelas Américas Contada em Livro e Filme-documentário 

As incríveis jornadas a cavalo do caubói Filipe Masetti Leite renderam dois livros e o filme-documentário, The Long Rider, que vem conquistando prêmios em festivais internacionais.

A inspiração de se lançar em uma jornada a cavalo de um extremo a outro do continente surgiu quando Filipe Masetti Leite ainda era criança. A história da cavalgada do caubói Aime Tschiffely da Argentina a Nova Iorque, contada pelo pai dele, habitou para sempre a imaginação do garoto da cidade Espírito Santo do Pinhal, interior de São Paulo.

A aventura do professor suíço inspirou Filipe iniciar em 2012, agora na pele do jovem caubói-jornalista de 25 anos, a sua própria jornada a cavalo.

Mas para quem ainda não conhece a história de garra e determinação do Cavaleiro das Américas, cruzar fronteiras é um capítulo que faz parte da história de vida de Filipe Masetti Leite.

Bem antes de se tornar um long rider – termo usado para definir o cavaleiro que tenha percorrido mais de 1.600 quilômetros contínuos em uma única jornada, Filipe deixou o Brasil e veio morar no Canadá com a família aos nove anos.

Foi no Canadá onde Filipe galopou em um novo mundo que serviria de cenário para seu amadurecimento, deixando de lado o universo do garoto imigrante do interior paulista para se tornar o Cavaleiro das Américas que conhecemos hoje.

Em Toronto, Filipe incorporou o Canadian way of life com direito a jogos de hóquei com os amigos. Mesmo com o regresso dos pais ao Brasil, ele continuou a morar no Canada e estudou Jornalismo na Toronto Metropolitan University (antiga Ryerson University).

Em 2009, Filipe teve o que pode ser considerada a sua primeira grande experiência internacional junto a comunidades. Ele deixava de lado as quatro paredes da universidade rumo a uma missão voluntária no Peru ao lado de outros colegas de curso.

O voluntariado da turma no Vale do Sagrado, nos Andes peruanos, rendeu o documentário, Gringo With Guns, que tem a assinatura do caubói Filipe Masetti Leite na direção de fotografia.

O dom de comunicar-se com pessoas de mundos tão opostos ajudou Filipe a se tornar o caubói que ele é hoje. Dos rincões peruanos, ele pisou – ainda sem as botas e o seu chapéu branco de vaqueiro, o palco da Yonge-Dundas Square para assumir o papel de um tipo de show man.

Filipe foi escolhido na época para ser um dos mestres de cerimônia do Brazilian Day Canada. Com carisma e simpatia, ele conseguiu laçar, ainda sem as botas de caubói, mas vestido de tênis e camiseta, os corações da multidão na festa que – por cinco anos, foi considerada o maior evento cultural brasileiro realizado fora do Brasil.

A jornada nos palcos da vida, com passagem pelos bancos de universidade somados ao trabalho voluntário em terras longínquas, funcionou como elo de transição do menino embalado pelos sonhos do aventureiro Tschiffely ao homem maduro que conhecemos até então: cidadão de um mundo sem porteiras.

(Foto) – O caubói Filipe e seu cavalo Dude sendo recepcionados pelos jovens de um pequeno vilarejo do estado de Durango, no Norte do México.

Há cinco anos, Filipe abriu pela primeira vez para a comunidade brasileira de Toronto as porteiras do seu mundo de andanças pelas Américas afora na sela do cavalo. Foi quando ele lotou um auditório para o lançamento oficial do livro, Cavaleiro das Américas.

A plateia que prestigiou o lançamento do livro foi conquistada mais uma vez pelo lasso carismático do caubói que, na sua primeira obra literária, narrou a aventura de 16 mil quilômetros cavalgados desde a cidade canadense de Calgary, na província de Alberta, até Barretos, interior paulista, ao lado de seus cavalos.

(Foto) – As anotações da saga na agenda a tiracolo durante a jornada de Calgary a Barretos resultaram no livro Cavaleiro das Américas, cuja obra serviu como fonte para o documentário, The Long Rider.

O livro Cavaleiro das Américas pode ser considerado a obra que nasceu de mãos dadas com o filme-documentário, The Long Rider, ou seja, o diário de anotações que virou filme. Com a publicação, Filipe abriu o seu baú de histórias de andanças pelas Américas. O livro nos coloca lado a lado do caubói para uma viagem juntos no lombo do cavalo Bruiser. Ao assistirmos ao longa-metragem, a experiência é mais forte ainda ao testemunharmos o que os olhos do caubói Filipe enxergam pelo caminho.

No filme-documentário, The Long Rider, o destemido caubói Filipe vira a câmera para o mundo ao redor dele e para si mesmo. Ele se torna um tipo de ‘repórter ocular das estradas’ ao revelar para nós a ideia do que é cavalgar pela imensidão territorial de países que formam as Américas.

(Foto) – A Travessia pelas Américas de Filipe Masetti Leite: 27 mil quilômetros em oito anos de cavalgadas. 

Em The Long Rider, galopamos ao lado de Filipe em pouco mais de uma hora e meia de viagem, sendo essa a duração do documentário. Por onde ele passa, conhecemos cidades, vilas e comunidades rurais e – principalmente, quem é esse habitante de norte a sul das Américas. É aí que a narrativa de histórias do long rider nos surpreende. Filipe cruzou com traficantes pelo caminho e também com pessoas munidas de solidariedade. Gente que deu as boas-vindas a alguém que poderia ser facilmente confundido como sendo um simples aventureiro misterioso incursionando em terras alheias a galopes de três quilômetros por hora.

Após três jornadas a cavalo e cerca de 25 mil quilômetros percorridos, atravessando 12 países, o Cavaleiro das Américas, Filipe Masetti Leite, falou à Discover Magazine sobre as cavalgadas dele pelo continente. Uma experiência de vida que resultou em livros publicados e na realização do filme-documentário, The Long Rider.

(Foto) – O Cavaleiro das Américas, Filipe Masetti Leite, ao lado do diretor e produtor do filme-documentário, The Long Rider, Sean Cisterna (Mythic Productions)

 

 

ENTREVISTA EXCLUSIVA À DISCOVER MAGAZINE

DISCOVER MAGAZINEA solidariedade das pessoas por onde você passou chega a nos surpreender – tanto no livro quanto no filme. Você nos faz acreditar que a bondade existe até mesmo em ambientes hostis dominados pela droga e violência. Qual o principal motivo no qual você acredita foi aquele que levou as pessoas a lhe ajudarem?

Filipe Masetti Leite – Duas coisas. Primeiro, o cavalo. O ‘Cavalo’ é um idioma universal que une as pessoas e rompe fronteiras. Muitas pessoas me ajudaram porque, assim como eu, também amam esses animais majestosos. Um exemplo foi um traficante hondurenho que me recebeu em sua casa durante três dias e me protegeu no Norte do seu país. Ele criava cavalos e se apaixonou pela minha jornada. O segundo motivo foi pelo fato de que eu estava trabalhando para realizar um sonho quase impossível. Todo mundo tem um sonho! Mas nem todo mundo consegue realizar esse sonho. Muitas pessoas me ajudavam porquê de uma certa maneira, o meu sonho se tornava o sonho delas também.

DM – Câmera, diário de viagem e muita ação em volta. Seus registros renderam excelentes livros e a sua saga virou filme. Ao trocar a caneta pelo recurso eletrônico, essa mudança não chegou a intimidar pessoas ao seu redor e comprometer em algum momento o desenrolar natural dos fatos?

FML – Não, porque eu estava filmando tudo sozinho. Esse é o charme do documentário! Não chegava na casa das pessoas com um diretor, cameraman, produtor, uma equipe de cinema. Eram somente eu e os cavalos. Quando tirava a minha câmera para filmar, já tinha me tornado amigo da pessoa. Aí, tudo fluía naturalmente porque ela confiava em mim, seu novo amigo, e não me via como um jornalista ou cineasta. Eu era apenas um menino documentando a sua aventura.

DM – Durante a sua jornada, algo chegou a acontecer que você preferiu não colocar no filme ou no livro?

 FML – Aconteceram várias coisas que não entraram no projeto por falta de espaço e tempo. Cortamos muitas histórias na edição do livro e do documentário. Filmei mais de 500 horas de imagens e o documentário tem uma hora e trinta e seis minutos.

DM – Você usou a internet para divulgar a sua saga. As redes sociais chegaram a algum momento a prejudicar a sua jornada devido a uma superexposição?

FML – As redes sociais me ajudaram muito durante a minha saga. Desde conseguir patrocínio para pagar o projeto, pousada no fim do dia, conectar com os meus amigos e familiares. Nunca me prejudicaram.

DM – Do tradicional purê de batatas ao prato exótico da sopa de intestino de cabras. Urso pelo caminho e picadas de percevejos. Não foi preciso apenas ter estômago, mas muita coragem! A cavalgada do Canadá até Barretos parece ter sido a mais desafiadora. Você a repetiria?

FML – A cavalgada do Canadá até Barretos foi a mais desafiadora das três porque foi a primeira e a mais longa. Passei 803 dias na estrada cruzando 10 países com os meus cavalos. Se tivesse que fazê-la de novo, eu faria porque acredito que esse é o meu destino, o meu propósito nessa vida.

DM – Quem é Filipe Masetti Leite antes e depois das jornadas feitas no lombo do cavalo?

 FML – Filipe Masetti Leite antes das jornadas era um menino sonhador, determinado, trabalhador, um pouco ingênuo e muito teimoso. O Filipe depois é um realizador bem mais paciente, alguém que entende muito melhor quem ele é de verdade. Essa experiência me ensinou muito sobre os cavalos, as Américas e as pessoas que habitam essa terra. Me ensinou também muito sobre quem eu sou de verdade. Um nível muito alto de autoconhecimento é algo que levo dessa experiência. O Filipe de hoje também é único. Ele é o único brasileiro e a pessoa mais jovem do mundo a cruzar as Américas a cavalo.

DM – Como anda a sua saúde após se aventurar pelas montanhas, rios, desertos e neve?

FML – A minha saúde anda muito bem, graças a Deus! Sou muito abençoado. Cruzei 12 países a cavalo em três jornadas. Cavalguei mais de 25 mil quilômetros, sendo que 30 km por dia. Cruzei desertos, rios, montanhas. Encontrei ursos pardos, onças e narcotraficantes pelo caminho. É um milagre que estou vivo hoje para contar essa aventura.

DM – O que o caubói Filipe faz no momento? Você planeja alguma outra aventura a cavalo?

FML – Estou terminando de escrever meu último livro, viajando com o documentário e trabalhando no filme que será baseado no meu primeiro livro. Já temos o roteiro e começaremos a filmar com os atores no ano que vem. Também faço muitas palestras no Canadá, Estados Unidos e Brasil.

DM – Como estão os seus amigos, os cavalos Frenchie, Bruiser e Dude?

FML – Quando cheguei no sítio da minha família, em Espírito Santo do Pinhal, interior de São Paulo, aposentei meus filhos, Frenchie, Bruiser e Dude, os heróis da minha jornada. Infelizmente, Bruiser e Dude faleceram, mas o Frenchie – que já está com mais de vinte anos, continua lá, firme e forte.

DM – Você ainda mantém contato com as pessoas que lhe ajudaram durante as suas jornadas?

FML – Sim! Graças às redes sociais, consigo manter contato com várias pessoas as quais eu conheci nas jornadas. É muito legal ver as crianças crescendo depois de tantos anos. Hoje tenho amigos do Alaska a Ushuaia, na Argentina.

PREMIAÇÕES

O filme-documentário, The Long Rider, ganhou o Audience Choice Awards como o Melhor Filme, no Beaufort International Film Festival, na Carolina do Sul. Também foi escolhido como o Melhor Filme-Documentário no Sunscreen International Film Festival, na Flórida. The Long Rider também foi contemplado duas vezes pelo Audience Choice Awards ao ser premiado como o Melhor Documentário Canadense e Melhor Documentário no Northwest Fest International Documentary Festival em Edmonton, Alberta. O documentário será exibido no Mumbai International Film Festival, na India, e no Dances with Films Festival em Hollywood, Los Angeles, e também no Wyoming International Film Festival. O mesmo ainda será exibido no Friday Harbor Film Festival, no estado de Washington, no Wildlife Vaasa International Nature Film Festival, na Finlândia, e no Oakville Festival de Ontário.

(Foto) – O caubói Filipe Masetti celebrando com a noiva Clara Davel e os empresários Arnon Melo (primeiro à esquerda) e Peter Hawkins o seu primeiro prêmio nos festivais de cinema. O filme-documentário, The Long Rider, ganhou o Audience Choice Awards na categoria Melhor Filme, no Beaufort International Film Festival, na Carolina do Sul.
O filme-documentário The Long Rider está previsto para estrear em Toronto no dia 26 de junho, no Cineplex Yonge-Dundas & VIP. O filme também poderá ser visto em Calgary a partir de primeiro de julho com exibição no Odeon Eau Claire Market. E a partir de 8 de julho será exibido:
Odeon South Edmonton (Edmonton, AB), Cineplex Cinemas Langley (Langley, BC), Odeon International Village (Vancouver, BC), Odeon Mcgillivray Cinemas & VIP (Winnipeg, MB), Cineplex Cinemas Park Lane (Halifax, NS), Cineplex Ajax (Ajax, ON), Cineplex Barrie (Barrie, ON), Galaxy Guelph (Guelph, ON), Odeon Niagara Square Cinemas (Niagara Falls, ON), Cineplex Cinemas Winston Churchill (Oakville, ON), Odeon South Keys (Ottawa, ON), Galaxy Peterborough (Peterborough, ON), Odeon Eglinton Town Centre (Scarborough, ON), Odeon Eglinton Town Centre (Scarborough, ON), Silvercity Sudbury (Sudbury, ON), Silvercity Thunder Bay (Thunderbay, ON), Cineplex Cinemas Normanview (Regina, SK), Scotiabank Theatre Saskatoon & VIP (Saskatoon, SK).

 

ESTRÉIA EM TORONTO: 

Quando:  26/06/2022   Horário: 7 PM

Onde: CINEPLEX (Yonge – Dundas)

NOTA: Parte da bilheteria será doada para  o Abrigo Centre.

 

 

Já os livros Cavaleiro das Américas e O Cavaleiro das Américas Rumo ao Fim do Mundo estão à venda no amazon.ca, nos idiomas inglês e português.

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Jandy Sales

Jandy tem experiência em rádio, televisão, jornal e revista. Ele já recebeu três prêmios como documentarista.

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