O Mercado de Trabalho Canadense em Tempos de COVID-19
“Apanhado Geral”
Por Hewton Tavares | Publicado 17 de Junho de 2020
Uma certa resignação parece lentamente estar tomando conta do mercado de trabalho no Canadá. Não é à toa, portanto, que muitos começam agora a respirar um pouco mais aliviados por conta das últimas notícias econômicas. Ainda assim, devido à toda a ansiedade que o tema tem gerado, a intenção aqui é fazer um apanhado geral.
Neste sentido, muito tem se especulado em um sem número de fontes de informação. Por isto, melhor irmos agora ao cerne da questão, no que ela já nos apresenta de positivo, negativo ou ainda incerto. Vamos lá!
A Boa Notícia
Um pouco antes da crise, a taxa de desemprego do Canada oscilava sempre abaixo dos 6 %. No entanto, com o baque, se passou a acreditar que ela poderia alcançar rapidamente a marca de 20 %. Ao invés disto, ela está agora em 13.7 % com relação a maio. Este foi um mês quando muitas empresas já iniciaram as suas recontratações. Mesmo assim, a taxa atual mensal se trata ainda da maior nas últimas quatro décadas, pelo menos. De qualquer maneira, ela certamente não induz a um cenário apocalíptico que muitos temiam.
A Má Notícia
Atualmente, o desemprego tem afetado desproporcionalmente mulheres, imigrantes recentes e estudantes. Espera-se, no entanto, que estes mesmos grupos possam ter ganhos consideráveis em seus níveis de emprego nos próximos meses. A melhora neste sentido depende substancialmente do setor de serviços. Na verdade, ele se trata de um dos pilares da economia que mais vem sofrendo ultimamente, obviamente pela grande limitação do movimento de pessoas nas ruas. No entanto, isto já está gradualmente começando a mudar no momento.
Pontos Ainda a Esclarecer
A primeira incerteza se relaciona com o papel do governo com relação à crise. Até o momento, o fato é que o estímulo oferecido parece ter amortecido bastante o baque da crise. Contudo, ele acentuou também o grande endividamento do setor público. Em função disto, não se sabe quanto tempo mais o governo poderá continuar apoiando o setor empresarial do país com tamanha diligência como tem demonstrado até agora. De qualquer maneira, existe uma expectativa geral de que o Partido Liberal sob a liderança de Justin Trudeau continue intervindo na economia de uma forma sistemática. E isto só poderá continuar acontecendo graças ao apoio do NDP de Jagmeet Singh.
Já a segunda dúvida tem a ver com a capacidade de certos setores da economia em realmente se recuperarem ou não. Por exemplo, a indústria aérea e a área de ensinos de idiomas parecem ser dois grandes exemplos deste impasse. A verdade mesmo é que certos setores ainda levarão muito tempo para se recobrarem das grandes perdas que vem sofrendo no momento. Além do mais, correm também um grande risco de nunca mais alcançarem o nível de oferta de emprego do qual vinham gozando antes da crise.
Na verdade, a crise atual também apresenta uma natureza endógena. Ou seja, ela não se deve largamente à fraqueza dos fundamentos da economia, como costuma acontecer neste tipo de situação.
Isto por si só nos leva ao terceiro ponto a ser considerado aqui neste sentido que é sobre a velocidade da recuperação econômica. Em teoria, ela está diretamente relacionada a se encontrar, ou não, um tratamento ou vacina contra o vírus. Isto se mostra, na verdade, como o que gera mais incerteza.
De qualquer maneira, o mais provável que aconteça é que ganhos substanciais no nível de emprego continuem a ocorrer inicialmente com a gradual reabertura da economia. A partir daí, quaisquer ganhos neste sentido tendem a ser muito menos significativos pois isto se trata do que costuma acontecer depois de qualquer crise econômica. Na realidade, a taxa de desemprego se revela, em geral, como um dos índices econômicos que mais demora a se recuperar mesmo.
Considerações Finais: os flutuantes
Infelizmente, os grupos que devem continuar sofrendo mais com o impacto da crise econômica atual são os mais ‘flutuantes’ da sociedade. Estudantes e trabalhadores temporários, por exemplo, já estão sentindo bastante a influência da crise basicamente por três motivos básicos.
O primeiro se deve à falta de uma rede proteção familiar que a maioria dos migrantes não consegue mesmo contar em uma situação como esta. O segundo se trata da ausência de um apoio governamental formal, tanto com um cunho financeiro ou em relação à prestação de serviços mesmo. Por fim, a terceira razão consiste essencialmente do cerceamento à mobilidade internacional que a própria crise vem causando.
Solidariedade
Nas condições atuais, o melhor remédio mesmo é a solidariedade. Por isto, precisamos estar realmente dispostos a oferecer qualquer ajuda, mesmo se ela tanger apenas à informação mesmo. No mais, necessitamos conscientemente abandonar o medo para que uma nova normalidade no mercado de trabalho possa, por fim, se estabelecer definitivamente e por completo.
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